domingo, 5 de setembro de 2010

A Velocidade



No Mundo actual, e no nosso país em particular, o imediato domina as atenções, tal é a pressão que a comunicação social faz sobre o minuto em que se vive.

Neste contexto, onde não é necessário conhecer o passado nem projectar o futuro, todos podem ter opinião, até porque ela é um dos ingredientes para o espectáculo em que se tornou o dia a dia.

Transformámo-nos em bombeiros voluntários, sem conhecimentos, nem equipamentos, impelidos a acudir a supostas emergências, ignorantes dos riscos das nossas acções pouco acertadas.
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Milan Kundera in "A Lentidão".
“... o homem inclinado para a frente na sua motorizada só pode concentrar-se naquele exato momento de seu vôo; agarra-se a um fragmento de tempo cortado tanto do passado como do futuro; é arrancado à continuidade do tempo; está fora do tempo; por outras palavras, está num estado de êxtase; nesse estado, nada sabe da sua idade, nada da mulher, nada dos filhos, nada das suas preocupações e, portanto, não tem medo, porque a fonte do medo está no futuro e quem se liberta do futuro nada tem a temer.
A velocidade é a forma de êxtase com que a revolução técnica presenteou o homem. Ao contrário do motociclista, quem corre a pé continua presente no seu corpo, obrigado ininterruptamente a pensar nas suas bolhas, no seu ofegar; quando corre, sente o seu peso, a sua idade, mais consciente do que nunca de si prórpio e do tempo de sua vida. Tudo muda quando o homem delega a faculdade da velocidade a uma máquina: a partir de então, o seu próprio corpo sai do jogo e ele entrega-se a uma velocidade que é incorpórea, imaterial, velocidade pura, velocidade em si mesma, velocidade êxtase.”

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