segunda-feira, 2 de junho de 2014

Confissões


- Eu já desconfiava que isto fosse sífilis, e até me admirei quando a médica me disse para ficar descansado, que “não era!”. Ainda fui a uma Urgência a Coimbra, mas as manchas, a dor de garganta e estes caroços no pescoço não passaram com o antibiótico.
- Mas o Sr. Padre sabe como é que a sífilis se apanha! Isso significa que não teve os devidos cuidados.
- Eu sou muito responsável. Nas minhas relações cumpro as normas, mas pode ter sido um acidente com um relacionamento que tive há dois meses!

É um homem cuidado, daqueles que as mulheres dizem "que é um desperdício ser padre”. Veste na moda e está totalmente depilado como mandam as regras dos metrosexuais. Não tem trejeito que me levante suspeita de vida paralela, onde o sexo seja rei, embora, aqui ao lado, alguém mais novo lhe ponha a chancela de “perigoso”.
A doença é uma linha que nos une e nos separa. Se ele avança, eu recuo. Só cada três meses nos vemos, por não mais que trinta minutos.
...
- Então, para terminar, vai tomar esta medicação em associação à que já estava a tomar. Faz estas análises e fica com a próxima consulta marcada para …
- Sr. Dr.! Não me marque para Maio, que nessa altura eu tenho muito que fazer com as missas e as comunhões da Páscoa. E será que posso pedir que uma enfermeira amiga me colha sangue, em vez de o vir ao Hospital? Sabe, Sr. Dr., na posição que tenho, não me posso expor, e quando venho fazer análises, a técnica chama em primeiro lugar as pessoas a quem foi dito que têm análises “para fora do hospital”, e eu vou num grupo que levanta muitas suspeitas.

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