quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Singeverga



Abençoai-nooooos!
Os olhos de todos esperam em vós, Senhooooor!
E vós nos dais os alimentooooooos,
Em tempo oportuuuuunuuuuuuu!

Pai Nosso que estais no Céu …
Santificado seja ….
E seja ….
Ass
Co…



Aáaaaaaaaméeeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnnnn!

e este Ámen polifónico, arrepiava os meus 23 anos!

Era assim o início do almoço e do jantar no refeitório do Mosteiro de Singeverga, quando uma ferradura de 50 frades Beneditinos cantava, circundando a mesa dos hóspedes. Depois um silêncio até se ouvir a voz sumida de um noviço a ler a Bíblia.
Éramos 4: um padre libanês, um beato que não falava com ninguém, o JMMAF e eu, que me espantava com a bondade daquela regra que os obrigava a cuidar de nós como se de Cristo se tratasse.

Foi a aflição de um exame e os frangos que o avô de um amigo lhes comprava para o Supermercado, que puseram o Mosteiro no meu caminho.

No primeiro dia aprendi o sino. No segundo a estar só com os livros e as canetas. No terceiro o licor e os cânticos gregorianos que me chegavam pelo telhado da Igreja para amenizar as pancreatites, as litíases, os tumores e todos os sofrimentos possíveis das miudezas que o Prof. Joaquim Bastos me iria perguntar. O silêncio da noite deu-me a dimensão de pequeno bicho.

Entendi a clausura e o som da música, mas não entendi o Deus e os seus pecados, nem as palavras que lhe dirigiam.
Já entendia a vida como uma luta para persistir para além de si e não como um deslumbre pelo Criador.

Ficou-me uma saudade daqueles espaços e uma ideia vaga de um local para o fim dos dias!

Nós vos agradecemos Senhooooooooor!
Todos os vossos benefícios, e os alimentoooooooooos!
Que por Vossa bondade nos concedêeeeeeestes!
Dêmos Graças a Deeeeeeeeeeeeeuuuuuuuus!

Cantava-se no fim da refeição…
… mas o polifónico do “Deeeeeuuuusss”, dissonava mais que o meu sentir permitia!

1 comentário:

wolverine disse...

bom post.

até percebo o fascínio pelo espaço e pelos sons das músicas, mas concebo os últimos dias (se tal exercício nos for possível...) como tempo para estar com aquilo que nos diz mais, englobando esta noção uma amálgama feita de pessoas e locais e livros e filmes e músicas, que mais nos marcaram ao longo da vida.