terça-feira, 14 de outubro de 2008

Saber ler
























Perceber o que se lê, não é fácil. Implica ser capaz de sintonizar o autor.
Somos feitos de experiências diversas e atribuímos significados às palavras que nem sempre são universais.
Depois há a pressa de ler em segundos um texto que demorou dias a ser publicável.
Quanto tempo terá demorado António Gedeão a dar forma e som a estes “Dez reis de esperança”?

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

e ... lê-se em 30 segundos.

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