Simeão Estilita, o Antigo (389 - 459) foi um asceta cristão sírio, que viveu no cimo de uma coluna de pedra. É considerado santo quer pela Igreja Católica Romana, quer pela Igreja Ortodoxa.
Nasceu no norte da Síria, e começou a sua vida como pastor. Aos 14 anos, impressionado com as histórias dos sacrifícios de beatos e fiéis, ingressou como monge em Teleda, de onde foi expulso quando descobriram que ficava muito ferido na sua prática de penitência, por se temer que fosse copiado pelos demais monges. Decidiu então tornar-se um eremita, e foi morar no topo do Monte Thesalissa, onde várias outras pessoas viviam isoladas a rezar. Teria 23 anos. Viveu como eremita numa cela e depois passou a viver no topo de uma coluna preso por uma corrente, para “se aproximar de Deus, e se afastar dos pecados do mundo”.
Foi adoptando cada vez colunas mais elevadas, tendo a última, onde viveria durante trinta anos (entre 429-459) dezassete metros de altura. O que era necessário à sobrevivência era-lhe levado através de uma escada. Daí exercia a sua influência em favor das causas que considerava justas.
O local onde se erguia a coluna tornou-se alvo de peregrinação e aí foi construída uma basílica cruciforme, cujas ruínas subsistem ainda no local.
A fama de Simão Estilita, que já em vida era considerado um Santo, ficou a dever-se à autoridade moral que lhe advinha da renúncia ao mundano e da sua dedicação total à meditação.
O Padre António Vieira, no Sermão de Todos os Santos, VII, fala dele assim:.
"Mais fazia Simeão Estilita, a quem com razão podemos chamar Anacoreta do Ar, e não da terra. Vivia sobre uma coluna de trinta e cinco côvados de alto, onde perseverou oitenta anos ao sol, ao frio, à neve, aos ventos, comendo uma só vez na semana, e orando de dia e de noite, quase sem dormir. Umas vezes orava de joelhos e prostrado, outras em pé e com os braços abertos, e nesta postura estava reverenciando continuamente a Deus com tão profundas inclinações, que dobrava a cabeça até os artelhos. (...)"
Milan Kundera, no livro “A Valsa do Adeus”, entende-o assim:
-Não percebe nada de nada dos santos, minha amiga. Eles eram pessoas infinitamente ligadas aos prazeres da vida. Só que acediam a esses prazeres por outros meios. Na sua opinião, qual é o prazer supremo do homem? Pode tentar adivinhar, mas vai enganar-se, porque não é suficientemente sincera. Não é uma censura que lhe faço, porque a sinceridade exige um auto-conhecimento e o conhecimento de si próprio é fruto da idade. Mas como é que uma jovem, que irradia juventude como você, pode ser sincera? Não pode ser sincera porque não sabe o que há dentro dela. Mas se soubesse, teria que admitir comigo que o maior prazer que há é o de ser admirado. Não concorda?
Olga respondeu que conhecia prazeres maiores.
- Não – disse Bertlef. – Olhe, por exemplo, o vosso corredor de fundo, esse que todas as crianças conhecem por ter ganho três competições olímpicas seguidas. Acha que ele renunciou à vida? E contudo, em vez de conversar, de fazer amor e comer bem, ele teve de passar muito tempo a andar à volta de um estádio. O treino dele parece-se muito com o que fizeram os nossos santos mais famosos. S. Macário de Alexandria, quando estava no deserto, enchia regularmente uma cesta de areia, punha-a às costas e percorria assim, dia após dia, extensões intermináveis, até ao esgotamento total. Mas existia certamente, tanto para o corredor, como para S. Macário de Alexandria, uma grande recompensa que pagava generosamente todos os esforços. Sabe o que é ouvir os aplausos de um imenso estádio olímpico? Não há alegria maior! S. Macário de Alexandria sabia porque é que andava com uma cesta de areia às costas. A glória das suas maratonas pelo deserto difundiu-se em breve por toda a cristandade e S. Macário de Alexandria era como o vosso corredor. O vosso corredor venceu também para começar os cinco mil metros, depois os dez mil e, finalmente como isso ainda lhe não bastava, venceu a maratona. O desejo de ser admirado é insaciável. S. Macário foi para um mosteiro de Tebas sem se dar a conhecer e pediu para ser admitido como membro da comunidade. Mas, a seguir, quando a quaresma chegou ao auge, foi a sua hora de glória. Todos os monges jejuavam sentados, mas ele, ele ficou de pé durante os quarenta dias do jejum! Foi um triunfo como você não pode imaginar! Ou lembre-se, por exemplo, de S. Simeão Estilita! Construiu no deserto uma coluna no topo da qual havia uma estreita plataforma. Ninguém se podia lá sentar; só se podia estar lá em cima de pé. E ele lá ficou de pé durante toda a sua vida, e toda a cristandade admirava com maior entusiasmo esse incrível recorde de um homem que parecia ultrapassar os limites humanos. S. Simeão Estilita foi o Gagarine do século V. E será você capaz de imaginar a felicidade de Santa Genoveva de Paris no dia em que uma missão comercial galesa lhe deu a saber que S. Simeão Estilita ouvira falar dela e a abençoava do alto da sua coluna? Porque é que lhes parece que ele tentava bater um recorde? Talvez por não se preocupar nem com a vida nem com os homens? Não seja ingénua! Os Padres da Igreja sabiam muito bem que S. Simeão Estilita era vaidoso e puseram-no à prova. Em nome da autoridade espiritual, ordenaram-lhe que descesse da sua coluna e que renunciasse á competição. Foi um duro golpe para S. Simeão Estilita. Mas, ou por siso ou por astúcia, obedeceu. Os Padres da Igreja não eram hostis aos recordes dele, mas queriam ter a certeza de que a vaidade de S. Simeão não levava a melhor sobre o seu sentido de disciplina. Quando o viram descer tristemente do seu poleiro, deram-lhe ordem imediata de voltar a subir para lá, de maneira que s. Simeão pôde acabar por morrer na sua coluna rodeado pelo amor e pela admiração do mundo.
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Olga respondeu que conhecia prazeres maiores.
- Não – disse Bertlef. – Olhe, por exemplo, o vosso corredor de fundo, esse que todas as crianças conhecem por ter ganho três competições olímpicas seguidas. Acha que ele renunciou à vida? E contudo, em vez de conversar, de fazer amor e comer bem, ele teve de passar muito tempo a andar à volta de um estádio. O treino dele parece-se muito com o que fizeram os nossos santos mais famosos. S. Macário de Alexandria, quando estava no deserto, enchia regularmente uma cesta de areia, punha-a às costas e percorria assim, dia após dia, extensões intermináveis, até ao esgotamento total. Mas existia certamente, tanto para o corredor, como para S. Macário de Alexandria, uma grande recompensa que pagava generosamente todos os esforços. Sabe o que é ouvir os aplausos de um imenso estádio olímpico? Não há alegria maior! S. Macário de Alexandria sabia porque é que andava com uma cesta de areia às costas. A glória das suas maratonas pelo deserto difundiu-se em breve por toda a cristandade e S. Macário de Alexandria era como o vosso corredor. O vosso corredor venceu também para começar os cinco mil metros, depois os dez mil e, finalmente como isso ainda lhe não bastava, venceu a maratona. O desejo de ser admirado é insaciável. S. Macário foi para um mosteiro de Tebas sem se dar a conhecer e pediu para ser admitido como membro da comunidade. Mas, a seguir, quando a quaresma chegou ao auge, foi a sua hora de glória. Todos os monges jejuavam sentados, mas ele, ele ficou de pé durante os quarenta dias do jejum! Foi um triunfo como você não pode imaginar! Ou lembre-se, por exemplo, de S. Simeão Estilita! Construiu no deserto uma coluna no topo da qual havia uma estreita plataforma. Ninguém se podia lá sentar; só se podia estar lá em cima de pé. E ele lá ficou de pé durante toda a sua vida, e toda a cristandade admirava com maior entusiasmo esse incrível recorde de um homem que parecia ultrapassar os limites humanos. S. Simeão Estilita foi o Gagarine do século V. E será você capaz de imaginar a felicidade de Santa Genoveva de Paris no dia em que uma missão comercial galesa lhe deu a saber que S. Simeão Estilita ouvira falar dela e a abençoava do alto da sua coluna? Porque é que lhes parece que ele tentava bater um recorde? Talvez por não se preocupar nem com a vida nem com os homens? Não seja ingénua! Os Padres da Igreja sabiam muito bem que S. Simeão Estilita era vaidoso e puseram-no à prova. Em nome da autoridade espiritual, ordenaram-lhe que descesse da sua coluna e que renunciasse á competição. Foi um duro golpe para S. Simeão Estilita. Mas, ou por siso ou por astúcia, obedeceu. Os Padres da Igreja não eram hostis aos recordes dele, mas queriam ter a certeza de que a vaidade de S. Simeão não levava a melhor sobre o seu sentido de disciplina. Quando o viram descer tristemente do seu poleiro, deram-lhe ordem imediata de voltar a subir para lá, de maneira que s. Simeão pôde acabar por morrer na sua coluna rodeado pelo amor e pela admiração do mundo.
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E eu, mesmo correndo o risco de não estar a ler a História de acordo com a época, arrisco o diagnóstico de Transtorno Obsessivo-Compulsivo, doença psiquiátrica frequente, onde pontuam ideias e actos compulsivos que podem assumir a forma de rituais e que se acompanha de acentuados traços de inflexibilidade e de gosto pela ordem.
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