quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Legalidade versus Moralidade


“Como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos” – Salgueiro Maia, 23 de Abril de 1974.
E em 2009 chegámos a um estado de grande pobreza moral, onde só é inaceitável o que é provado como crime. De resto: vale tudo.
Esta identificação do legal com a moral é o maior logro da nossa sociedade, pois já há mil anos, o Direito Romano, defendia que "nem tudo o que é legal é moralmente aceitável".
Hoje, Portugal tornou-se numa imensa sala de audiências, onde os comportamentos imorais dos governantes são discutidos para se analisar se são legais, para que, se não se provar ilegalidade, se possa passar uma esponja sobre o caso.

Será que devem ser os juízes a distinguir, por nós, o bem do mal, o certo do errado?
Ou será que devemos escolher os nossos líderes pela sua postura moral para assim sairmos deste pesadelo?

É que "as coisas deixadas a si próprias, vão sempre de mal para pior"

7 comentários:

Anónimo disse...

O problema está no facto de que escolhemos rótulos e não conteúdos. Quando socialmente o que conta é a imagem esta pode albergar qualquer índole menos própria da natureza do ser para a defesa do interesse comum. A questão não é facilmente contornável no processo de escolha pois, na realidade, pouco escolhemos – pelo menos é essa a percepção que tenho. A minha opinião tem um alcance muito curto no que toca aquilo que considero ser desejável colectivamente, pois o número, a massa crítica, faz "alguma" diferença. Contudo, há algo a fazer neste domínio, começando pelas nossas dinâmicas individuais, dando primazia às questões do ser e não do ter, ao colectivo e não ao individual, à cooperação e não à competição, à conciliação e não ao conflito. Se socialmente isto for o desejado – e cultivado – o indivíduo também o ambicionará e aí, talvez, alguém desse estatuto nos possa governar e não se governar.

PM

capitão disse...

Caro PM:
Você voa!
Eu não tenho nada contra o “ter”, o “individual”, a “competição” ou o “conflito”. Acho que eles existem e que temos de viver com eles e a eles devemos recorrer quando nos são primordiais.
O que eu acho é que quem se propõe para defender a “coisa pública” não pode ir para lá para “ter”, e que no seu passado não deve haver historial de corrupção, nepotismo ou incompetência.
De resto não os quero Santos ou Super-Heróis.Quero-os honestos e empenhados!

Anónimo disse...

A questão está no facto de nos centrarmos constantemente nos sintomas e de não se tentar perceber as causas.É um bom exercício para a compreensão de que aquilo que colhemos é muito do que cultivamos - individualmente e socialmente - mesmo que inconscientemente. A sociedade não muda porque apenas desejamos que mude e regras impostas apenas disfarçam, ou simplesmente, não são a solução para o problema. A história está cheia de bons exemplos. Então por onde começar?

PM

capitão disse...

Caro PM:

Eu acredito que será o “conhecimento” que nos livrará do caos.
Mas o “conhecimento” não é “saber umas coisas e mandar uns bitaites”. O conhecimento é organizacional, já que, no tempo presente, não há mente capaz de analisar com segurança a multiplicidade de variáveis que uma decisão política pode ter.
Ora é aí que Portugal e outros falham. As nossas melhores cabeças estão arredadas da política, que é deixada aos aventureiros. E o nosso povo é tão ignorante que depois de ler um livro ou ouvir alguém falar fica logo com certezas.
Temos de criar Instituições honestas que claramente defendam os princípios para que foram criadas. Só assim combateremos a corrupção e a incompetência política.
Quando digo “temos”, penso numa massa crítica do povo, culta e com espírito de análise, que neste momento não existe.

Anónimo disse...

Sem dúvida que o conhecimento é importante e quanto mais perspectivas existirem de uma determinada realidade mais adaptadas serão as soluções, mas mantém-se um problema que está na raiz da acção: qual a motivação de quem usa o conhecimento, pois o saber não muda necessariamente a natureza do ser. Podemos reconhecer, a título de exemplo, que know-how, na área da energia atómica pode constituir uma mais valia ou uma séria ameaça, bem como questionar o fim que teria a Internet – caso fosse dominado o conhecimento para o seu desenvolvimento – para figuras como Hitler. A utilidade do conhecimento serve os fins que quem o usa e isto não chega para mudar a sociedade para melhor. A competição, essa sim, atinge um patamar diferente.

capitão disse...

Caro anónimo:
No meu comentário anterior, quando disse que "o conhecimento é organizacional", defendi que são as Instituições que o detêm e não os indivíduos. Claro que quando um poder ditatorial se lhes sobrepõe e as submete tudo pode acontecer. Mas eu creio (e aqui é uma questão de fé) que o caminho é Instituições forte, dificilmente corruptíveis, que se controlam mutuamente.
Mas para isso um povo tem de ser suficientemete culto para não eleger indivíduos corruptos e penalizar quem os promove.

Anónimo disse...

Peço deculpa pelo lapso, mas deve ter percebido quem é o "anónimo".

PM