segunda-feira, 16 de maio de 2011

3ª carta a Sócrates





Caro Sócrates:
Já não te consigo ouvir. Ontem, enquanto falavas, preferi lavar a louça e dar uma camisa ao ferro.
Não fiques zangado, mas eu sabia o que ias dizer e já estou farto de aparências. É que por aqui a coisa é igual. Uma porcaria qualquer com um documento que lhe diga uma função, passa a ter honras de coisa digna. A qualidade é a que for. Do péssimo ao suficiente, mas raramente bom.
Alimentas e alimentas-te do faz de conta, dos “doutores” sem soluções e dos que vivem de expedientes “para inglês ver!”. Permitiste que as instituições fossem tomadas por irresponsáveis que gerem o dinheiro público com a displicência dos novos-ricos. Facilitaste um autoritarismo semelhante ao do Estado Novo e o medo de perder promoções e o emprego.
Deste o mote e agora, os muitos que se sintonizam pelas novas oportunidades, paralisam quem luta por um mínimo de qualidade. Criaste um país de doutores para o que não faz falta, puseste a classe média na mão dos grandes consórcios e deste machadadas repetidas na agricultura, nas pescas e no comércio tradicional.

A tua fenomenal capacidade de racionalizar tudo, não consegue superar as dificuldades originadas nos erros sistemáticos que se foram cometendo. Entraste jovem na política. Devias ter estudado mais história e treinado rigor nos procedimentos antes de te abalançares a timoneiro deste barco e devias saber que o voluntarismo não resolve problemas complexos para não te veres confrontado com o enriquecimento e a incompetênciada tua família política, sem força para a condenares.

Agora dizes que queres cumprir o programa da “Troika” com quem já deu provas de laxismo, e eu não acredito, pois o desacerto é tanto que, mesmo com renegociação da dívida, nem os salamurdos se vão safar!

Passa bem!

Fernando

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