Quando se passa por realidades bem diferentes das actuais, é provável que nos venha à mente este “cliché”, principalmente se nos deparamos com gente mais nova.
Eu nasci no tempo em que havia esperança. Num tempo em que todos sabíamos que não era possível continuar fora de uma Europa que todos os dias nos deslumbrava com novidades e soluções. Esperança que redobrou no dia em que ninguém se levantou para defender a gerontocracia que obrigava à ignorância e ao servilismo. E eu acreditava que depois de ter assente a poeira revolucionária, nos iríamos organizar de modo diferente.
É que eu sou do tempo em que em muitas camas dos Hospitais Distritais, pouco mais se oferecia que hotelaria e iatrogenia, em que havia Internistas de urgência “à chamada”, e quando eram chamados … não vinham e davam umas “ordens” pelo telefone. Eu sou do tempo em que muitos médicos se ausentavam por longas horas com o conhecimento das direcções, do tempo das negociatas dos funcionários, do tempo do erro grosseiro injustificável.
Nesse tempo, eu tinha trinta e poucos anos e uma enorme esperança. Acreditava que se fizéssemos a maior parte das coisas certas, os resultados iriam aparecer … naturalmente, e até cheguei a acreditar que o tempo dos sacripantas estava contado.
Enganei-me. Ao mesmo tempo que um grupo se esforçava, havia gente a elaborar o conto do vigário para os iludir. E acreditámos em quem nos pagou para não trabalhar e nos deixou viver à rica e à francesa, para nos prender pelas dívidas.
Quem tem agora vinte anos, não vai viver como eu, feliz por ter esperança, mesmo cercado pela disfunção. Vai viver num mundo mais organizado, obrigado a sujeições que já estavam esquecidas, a aguardar a toda a hora que o céu lhe caia em cima.
Talvez em 2018 vá conseguir o ordenado de 2010, ratado da inflação! Fraca esperança!
Talvez em 2018 vá conseguir o ordenado de 2010, ratado da inflação! Fraca esperança!
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