domingo, 18 de janeiro de 2009

O Jogo do Anjo


É um Romance que se lê com extremo agrado.
Tem uma história policial, 3 ou 4 de amor, fala da importância dos livros e dá uma imagem de Barcelona da 1ª metade do Século XX.
O enredo gira em volta de uma encomenda a um escritor para que ele, num livro, crie uma Religião: “um código moral que se expressa por meio de lendas, mitos ou qualquer tipo de artifício literário a fim de estabelecer um sistema de crenças, valores e normas com os quais regular uma cultura ou uma sociedade.”

Os meus sublinhados:
… Acho que tens talento e vontade, Isabella. Mais do que julgas e menos do que esperas. Mas há muitas pessoas que têm talento e vontade, e muitas delas não chegam a lado nenhum. Esse é apenas o princípio para se fazer alguma coisa na vida. O talento natural é como a força de um atleta. Pode-se nascer com mais ou menos faculdades, mas ninguém consegue ser um atleta simplesmente por ter nascido alto, forte ou rápido. O que faz um atleta, ou um artista, é o trabalho, o ofício e a técnica. A inteligência com que se nasce é simplesmente munição. Para se chegar a fazer alguma coisa com ela é necessário transformarmos a nossa mente numa arma de precisão. … Para chegar a alguma coisa que te proponhas é preciso primeiro a ambição e depois o talento, o conhecimento e, por fim, a oportunidade.
… Não confio nas pessoas que julgam ter muitos amigos. É sinal de que não conhecem os outros.
… A justiça é uma extravagância da perspectiva, e não um valor universal.
… É aquela história antiga do diz-me de que te blasonas, dir-te-ei do que precisas. É o pão-nosso de cada dia. O incompetente apresenta-se sempre como perito, o cruel como piedoso, o pecador como santarrão, o agiota como benfeitor, o mesquinho como patriota, o arrogante como humilde, o vulgar como elegante e o pateta como intelectual,
… As boas palavras são bondades vãs que não exigem sacrifício algum e que se agradecem mais do que as bondades de facto.
… A Velhice é a vaselina da credulidade.

O comentário do cliente sobre a estrutura do livro encomendado:
“ O trabalho é óptimo …, se tivesse de fazer alguma observação, seria que acertou em cheio ao construir toda a história do ponto de vista de uma testemunha dos factos que se sente vítima e fala em nome de um povo que espera a chegada desse salvador guerreiro. … Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza de estarmos ameaçados. Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas acções e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. Os nossos opositores, ou simplesmente os nossos vizinhos, deixam de estar ao nosso nível e transformam-se em inimigos. Deixamos de ser agressores para nos convertermos em defensores. A inveja, a ameaça, está sempre no outro. O primeiro passo para acreditar apaixonadamente é o medo. O medo de perdermos a nossa identidade, a nossa vida, a nossa condição ou as nossas crenças. O medo é a pólvora e o ódio o rastilho. O dogma, em última instância, é apenas um fósforo aceso.
… Sinto a falta de um vilão. A maioria de nós, quer tenhamos consciência disso, quer não, define-se por oposição a alguma coisa ou a alguém. É mais fácil reagir do que agir, por assim dizer. Nada aviva a fé e o zelo do dogma como um bom antagonista. Quanto mais inverosímil, melhor.
… Uma das funções do nosso vilão deve ser permitir-nos assumir o papel de vítima e reivindicar a nossa superioridade moral. Projectaremos nele tudo aquilo que somos incapazes de reconhecer em nós próprios e diabolizamos de acordo com os nossos interesses particulares.

Estes sublinhados têm a ver com algumas das minhas preocupações actuais.

1 comentário:

H disse...

Sem dúvida um livro fabuloso. E o primeiro dele é igualmente fantástico!
Uma pergunta: quem acha que é o Coreli?
(http://ireflexoes.blogspot.com/2009/01/o-jogo-do-anjo.html )