terça-feira, 29 de setembro de 2009

Conversa de médicos.


- Então já saiu o Acordo Colectivo da Carreira Especial Médica?
- Sim! Acabam os contratos individuais de trabalho e cria um documento que regula as carreiras médicas nos organismos do Estado.
- Mas essa de dividir as áreas de exercício profissional em Hospitalar, Medicina Geral e Familiar, Saúde Pública, Medicina Legal, não perspectiva um posicionamento correcto dos médicos no futuro.
- Que queres dizer com isso?
- Quero dizer, que a política “hospitalocêntrica” tem de acabar, e que os Centros de Saúde vão ter que ter áreas de actividade das Especialidades ditas Hospitalares. O sistema vai ter que evoluir para que haja Alergologistas, Pediatrias, Endocrinologistas, Gastrenterologistas, Neurologistas, Cardiologistas, Reumatologistas, Pneumologistas, e outros, nos Centros de Saúde, que poderão ter simultaneamente actividade hospitalar, estarem lá por períodos em rotação ou em permanência de acordo com a política do seu Serviço. - Vai dizer isso aos médicos e vais ter um levantamento maior que aquele dos professores.
- Vai nada. Isso já foi assim. Eu vivi a implementação do conceito organizacional, que orientou para os Hospitais a Especialidades, o que, a meu ver, foi a principal causa dos grandes problemas do tratamento dos doentes do SNS fora dos Hospitais.
Eu fui “médico da Caixa”, quando os Centros de Saúde davam os primeiros passos e então, a quase totalidade dos médicos hospitalares trabalhava nestes espaços, quer a fazer consultas gerais quer de especialidade, e embora houvesse outro tipo de problemas, havia a possibilidade de contacto entre os diferentes saberes, o que formal e informalmente facilitava a actualização e a solução atempada de muitas situações.
- Mas olha que aquilo nos Centros de Saúde está muito mais burocratizado.
- É igual. A burocratização do sistema terá que diminuir cá e lá, e conquistar maior credibilidade médica, de modo a não se ter de dar resposta positiva a todas as solicitações de uma população insegura e ávida no consumo de saúde, para acabar com a tentativa de colmatar as deficiências em tempo e em capacidades com a multiplicação de exames.
E a verdade é que nos Hospitais as Especialidades Médicas evoluíram mais para as actividades de Consulta Externa e para os Meios Auxiliares de Diagnóstico, e diminuíram a sua actividade no Internamento, apesar do número crescente dos seus médicos.
- Então tu entendes que num futuro próximo os Centros de Saúde deixarão de ser só áreas de actividade da Medicina Geral e Familiar e que passarão a integrar muitas das Especialidade ditas Hospitalares?
- Estou certo disso. E mais, se calhar para facilitar as coisas, o melhor era chamarem-lhes Hospitais de Dia. Então agora com as ULS isso está mais que facilitado.
- Fico a ver!

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