Consultas de Recurso nos C. Saúde. Doentes ?/ Utentes ?, sem médico de família, desde as 6h da manhã à porta, para conseguir uma das 12 “vagas” para o dia.
- “Sr. António, gabinete 6!”
Tem 82 anos, e um processo cheio de análises e poucos diagnósticos. Vai sendo seguido por vários médicos, entre Portugal e o Luxemburgo e, enquanto se senta, apresenta delicadamente um rol de análises de há 4 meses.
- “Bom-dia, menina Dra.. Eu sou um doente de risco!”
E assim começa a conversa. As doenças passadas, as histórias da sua vida, o elogio ao sistema de saúde do Luxemburgo com a qualidade medida pela disponibilidade imediata de fazer análises a custo zero. Entre todas estas histórias, lá consigo chegar ao que interessa.
- “Mas então, Sr. António, o que o traz cá desta vez?”
- “ Sabe, menina Dra., … lançaram-me um feitiço de morte há 3 anos! E desde então andei com um sapo dentro de mim, angustiado por saber que posso morrer a qualquer hora!
- “Um sapo?” – eu à espera que fosse uma forma de exprimir um qualquer sintoma.
- “Sim, menina Dra.! Um sapo! E que volta e meia tentava sair aqui por cima com as unhas afiadas. Grr grr…sentia eu” – diz, enquanto põe a mão em garra e faz um movimento de escalada da barriga à boca. - "Até fui ao Otorrino e ele disse: - Sr. António, o senhor tem a garganta arranhada. Foi a prova que o sapo estava lá".
“Andei em todos os médicos e fiz todos os exames e não me acharam nada, mas a angústia era tão séria, menina Dra – não desfazendo os srs. Drs., que sempre me trataram bem, a mim que sou um doente de risco, que no início do ano decidi ir ao bruxo".
"Foi o que me valeu. Também paguei caro – 5000 euros – mas ele lá fez umas rezas e deu-me uns medicamentos e fui para casa à espera que o sapo saísse. Passei dois dias entre a cama e a sanita e o raio do sapo não queria sair! Primeiro era só diarreia – com sua licença menina Dra! – mas depois “POC” lá saiu o sapo!”
- “Mas então o que o traz cá? – pergunto enquanto olho para a enorme lista de doentes que se seguem.
- “Bem. O que me traz cá, é que gostaria de fazer umas análises gerais, para ter a certeza que o sapo não deixou nenhuma maleita cá dentro!”
- “Mas sr. António, o senhor tem andado a sentir-se mal? Alguma coisa de novo?”
- “Não. Ando muito melhor! Mas as análises é que não sei…”
- “Mas o senhor tem aqui estas análises de Fevereiro, que estão excelentes para um senhor da sua idade!”
- “Pois, menina Dra., mas o mal só saiu de dentro de mim em Março!”
Neste momento páro para pensar como é que vou descalçar esta bota. De facto, a maneira mais fácil é passar-lhe a requisição das análises. Mas não faz sentido! Uma coisa é certa: não vale a pena argumentar com o feitiço, nem alegar custos desnecessários, pois, como bom português, não entende que o dinheiro do Estado é também dinheiro dele. Resolvo usar a técnica de pensamento conjunto.
- “Sr. António, pense comigo: Se em Fevereiro o mal ainda estava dentro de si e as análises estavam todas bem, o que o faz pensar que agora, que o mal já saiu, possa haver alguma coisa errada?”
Faz uma pausa prolongada e responde:
- “Tem razão, menina Dra., não tinha pensado nisso! Sendo assim, só preciso de um medicamento para a queda do cabelo, que desde que o comecei a pintar, ele tem caído mais!”
- “Sr. António, gabinete 6!”
Tem 82 anos, e um processo cheio de análises e poucos diagnósticos. Vai sendo seguido por vários médicos, entre Portugal e o Luxemburgo e, enquanto se senta, apresenta delicadamente um rol de análises de há 4 meses.
- “Bom-dia, menina Dra.. Eu sou um doente de risco!”
E assim começa a conversa. As doenças passadas, as histórias da sua vida, o elogio ao sistema de saúde do Luxemburgo com a qualidade medida pela disponibilidade imediata de fazer análises a custo zero. Entre todas estas histórias, lá consigo chegar ao que interessa.
- “Mas então, Sr. António, o que o traz cá desta vez?”
- “ Sabe, menina Dra., … lançaram-me um feitiço de morte há 3 anos! E desde então andei com um sapo dentro de mim, angustiado por saber que posso morrer a qualquer hora!
- “Um sapo?” – eu à espera que fosse uma forma de exprimir um qualquer sintoma.
- “Sim, menina Dra.! Um sapo! E que volta e meia tentava sair aqui por cima com as unhas afiadas. Grr grr…sentia eu” – diz, enquanto põe a mão em garra e faz um movimento de escalada da barriga à boca. - "Até fui ao Otorrino e ele disse: - Sr. António, o senhor tem a garganta arranhada. Foi a prova que o sapo estava lá".
“Andei em todos os médicos e fiz todos os exames e não me acharam nada, mas a angústia era tão séria, menina Dra – não desfazendo os srs. Drs., que sempre me trataram bem, a mim que sou um doente de risco, que no início do ano decidi ir ao bruxo".
"Foi o que me valeu. Também paguei caro – 5000 euros – mas ele lá fez umas rezas e deu-me uns medicamentos e fui para casa à espera que o sapo saísse. Passei dois dias entre a cama e a sanita e o raio do sapo não queria sair! Primeiro era só diarreia – com sua licença menina Dra! – mas depois “POC” lá saiu o sapo!”
- “Mas então o que o traz cá? – pergunto enquanto olho para a enorme lista de doentes que se seguem.
- “Bem. O que me traz cá, é que gostaria de fazer umas análises gerais, para ter a certeza que o sapo não deixou nenhuma maleita cá dentro!”
- “Mas sr. António, o senhor tem andado a sentir-se mal? Alguma coisa de novo?”
- “Não. Ando muito melhor! Mas as análises é que não sei…”
- “Mas o senhor tem aqui estas análises de Fevereiro, que estão excelentes para um senhor da sua idade!”
- “Pois, menina Dra., mas o mal só saiu de dentro de mim em Março!”
Neste momento páro para pensar como é que vou descalçar esta bota. De facto, a maneira mais fácil é passar-lhe a requisição das análises. Mas não faz sentido! Uma coisa é certa: não vale a pena argumentar com o feitiço, nem alegar custos desnecessários, pois, como bom português, não entende que o dinheiro do Estado é também dinheiro dele. Resolvo usar a técnica de pensamento conjunto.
- “Sr. António, pense comigo: Se em Fevereiro o mal ainda estava dentro de si e as análises estavam todas bem, o que o faz pensar que agora, que o mal já saiu, possa haver alguma coisa errada?”
Faz uma pausa prolongada e responde:
- “Tem razão, menina Dra., não tinha pensado nisso! Sendo assim, só preciso de um medicamento para a queda do cabelo, que desde que o comecei a pintar, ele tem caído mais!”
História de FFG
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