sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Laurindinha


- Então a senhora não é da família da doente?
- Não Sr. Dr.! Ela era amiga da minha mãe e vivia ali ao lado, com o marido. Quando ele morreu, ficou sozinha, apesar de ter 14 filhos. Ainda se aguentou assim um mês e meio, mas no primeiro achaque bateu-me à porta e eu deixei-a ficar lá em casa, e nunca mais saiu. Minto Sr. Dr.!. Depois ainda foi viver um mês com a filha para Vila Fria. Mas ela não cuidava bem da mãe. Tem 72 anos e também é doente. Nem um banho lhe deu. Quando voltou, estava tão descuidada, que só visto. Agora vem visitá-la de quatro em quatro meses.
- E os outros filhos?
- Estão todos em França, e desde que está comigo, só cá vieram duas vezes. Mas ela não quer sair da minha casa. Diz que está bem aqui. O que é que eu hei-de fazer!?
- Mas eles dão qualquer coisa para o sustento da mãe?!
- Não, Sr. Dr.! O que ainda ajuda é a reforma dela, que mal paga os medicamentos! Mas que hei-de eu fazer? Não é, Laurindinha? Está-me a ouvir! LAURINDINHA! Ela é um pouco surda!

Mas a D. Laurinda não a ouvia, debaixo daquele febrão que a tolhia.

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