sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sr. Monteiro


















Tem 37 anos, mas mantém o estilo "teenager" como imagem de marca. Entra a balançar o corpo, com o boné preto bem enfiado na cabeça. Cumprimenta com um ar levemente desafiador, e senta-se como se estivesse numa esplanada.
Inicio a consulta, tentando quebrar aquela desmesura.
- Como tem passado?
- Bem!
- E os filhos?
- “Os filhos?”, estranha que me lembre, - “Andam por aí com as mães e os padrastos!”, e depois, mais prasenteiro, lembrando-se de uma novidade, “O mais velho, foi pai há 1 mês!”, afirma, como quem se admira.
- “Então você já é avô!", espanto-me, … "Foi pai muito cedo!”.
- “O primeiro foi aos 14 anos. … Depois, passa-se a gostar e pronto!”, explica, para completar enfastiado, “Agora já não tenho que me preocupar com isso. Já não funciona!”
Espreguiça-se, tira o boné, e passa as mãos pela cabeça como se estivesse a apanhar o cabelo atrás. Interrompe o gesto a meio, sorri e diz em jeito justificação: -“É do hábito, de quando tinha o cabelo comprido!”
Tem o cabelo rapado só do lado esquerdo e ligeiramente comprido à direita. Questiono o porquê do corte, que lhe desconhecia.
- “Sr. Monteiro, eu não tenho nada com isso, mas porque é que fez esse corte tão esquisito?”
- “Tive de o rapar por causa da Radioterapia!”
- “Mas ficava-lhe melhor se o tivesse rapado todo!”, arrisco a opinião.
- “A Gillette acabou, e eu não rapei mais!”, responde, deixando-me na dúvida da veracidade da afirmação.

- Está bem! Vamos à sua doença. Como se sente? ...
História de A.S.

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