segunda-feira, 15 de novembro de 2010

QUERO AS MINHAS BOTAS!


- "Vai à sede do PC que eles estão a dar um par de botas a quem se inscrever!".

Era assim a anedota, mas podia ser de outro modo, já que me lembro de me terem dito que, pelos anos 50, em certas zonas do Alentejo, o padre dava o fato ao noivo quando havia casamento “pela igreja”.
A história prosseguia. O pobre entrava, inscrevia-se, e pedia o par de botas. Nessa altura era convidado a dirigir-se a uma outra secção, onde estas lhe seriam dadas, mas quando lá chegava punham-lhe sempre uma questão, do tipo: Quer botas pretas ou castanhas? E se escolhesse castanhas, era orientado para outro guichet, “porque aqui é para as pretas”, ou vice-versa.
Depois, nesses outros balcões perguntavam-lhe sucessivamente se as queria de cano alto ou baixo, com tacão ou sem tacão, com cordões ou sem cordões, e por aí fora, encaminhando-o sempre até à última porta que se abria para a rua.
Depois o amigo perguntava-lhe: Então inscreveste-te? E as botas? E ele respondia ainda atordoado: As botas, não as trouxe! Mas eles têm cá uma organização!

No sábado aconteceu-me o mesmo. De repente fiquei sem Net, TV e Telefone fixo.
Ligo para a MEO e passo de atendedor em atendedor até chegar a quem me iria resolver o problema. Trinta minutos depois de um infindável "ligue e desligue", conclui-se que a avaria é dentro de casa e que terá de lá ir alguém. Dizem que o caso é prioritário, e que será atendido no próprio dia, ou o mais tardar no dia seguinte. Fico tão feliz como o outro com a perspectiva das botas.
Domingo repito os telefonemas, e, sempre delicadamente, pedem-me para aguardar enquanto me dão a primavera do Vivaldi, para depois de longos minutos ao telemóvel, lá vir a voz suave de um Bruno, de uma Carla, ou de uma Patrícia, dizer : “Obrigado por aguardar! A sua reclamação vai ser enviada para o apoio técnico. Posso ajudar em mais alguma coisa?"
E eu a ferver: QUERO AS MINHAS BOTAS!

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