segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Agricultura


O sr Joaquim tem 53 anos e uma barriga que salta das calças para rasgar a camisa pelos botões. Nele tudo cheira a muito usado. Coxeia da perna esquerda, mas mesmo assim é ele que vai à frente. A jaqueta de camurça verde, ensebada nos bolsos, com três buracos nos ombros, deve ter mais histórias para contar que aquelas que o pároco da aldeia ouviu em confissão. Foi lavrador e comerciante de gado, quando havia feiras por todo o lado. Agora o “progresso” atou-lhe os pés e as mãos e desistiu. Quer vender o terreno que foi o ganha-pão dos seus antepassados. Os porquês, explica-os em frases curtas, arrancadas a custo, daquela boca onde faltam peças. “Este campo, há três anos, esteve todo a tomate. Depois acabaram as cotas e ficou para pasto de ovelhas, como os outros. Mas houve tempo em que tive tudo a milho. Agora não se consegue produzir nada, com o preço dos adubos e do gasóleo sempre a subir e sem que se pague mais ao produtor".
Andamos mais uma centena de metros, ao longo dos arames que limitam a propriedade. -“Este buraco aqui, é uma charca. Está a precisar de limpeza, mas tem água todo o ano. Ali mais abaixo, antes de chegar ao ribeiro, há outra! Os animais vêm beber aqui. Tem a fundura de uma homem, mas é sempre em declive, para os animais não caírem. Esta terra dá de tudo. Agora está para ovelhas. Não vale a pena cultivar o que quer que seja. São doze hectares de terra boa e com água o ano inteiro". Pára à saída de um cano no chão, e abre a torneira para mostrar um jorro de água. – "No verão, abro aqui e fica toda a noite a regar sem nunca parar. Só do outro lado é que é preciso pôr um motor no ribeiro. Mas água não falta!" Repete.
Andamos até ao coberto onde deixou o Fiesta meio desconchavado, em que chegou. As poucas portas que sobram estão fechadas por arames. Nas zonas abertas os fardos de palha esboroam-se por cima dos restos das alfaias esquecidas. O telhado de zinco ainda aparenta alguma solidez. Mais à frente, um pomar de citrinos resplandece de frutos.
- "Ainda por cima a minha mulher ficou doente dos ossos e tenho de a levar, todas as semanas, ao Hospital para lhe darem uma injecção".
-"E o Sr. Joaquim não tem filhos que queiram pegar nisto?", pergunto.
Tem dois. Um em Lisboa e o outro na Guarda. Têm melhor vida que aquela que ele vive aqui. -"A agricultura não interessa a ninguém. Cada vez há menos gente por estes lados, não há feiras e estamos na mão dos hipermercados que nos esmagam os preços. Se vamos vender fora da região, o preço com os transportes é maior que o daquilo que se fez. Não vale a pena ser agricultor em parte nenhuma, mas aqui … nem pensar! Para mais, puseram portagens nas SCUTs!"
- E quanto é que você está a pedir por isto?
- 70.000 Euros

Pobre Portugal agrícola.

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