A história é do tempo dos "destinos irremediáveis".
Ela era dócil, de poucas perguntas, mas atenta ao que se passava em seu redor, o que, nem sempre, agradava à freiras do colégio onde, interna, cumpria o Liceu.
- Não faças assim, que Deus não gosta! Vê o exemplo dos Santos! Lembra-te da irmã Lúcia de Fátima e da Santa Bernadette em Lourdes, que rezavam todos os dias, e assim agradaram tanto a Deus, que Nossa Senhora as visitou para lhes dar a alegria de espalharem curas milagrosas pelos fiéis devotos!
E naquela beatitude sentia-se levitar bem acima da realidade hostil, plena de pecados, com que a toda a hora a atormentavam.
Mas o pouco do mundo exterior que os seus treze anos lhe permitiam, surgia a tempos, recheado das brincadeiras das férias, com as festas da aldeia, os primos, e o riso dos miúdos da terra, e então os timpanos vibravam-lhe tanto que, num momento de lucidez em que tudo lhe parecia claro, decidira que iria correr riscos, mas freira é que não iria ser.
Cumpriria os preceitos religiosos, estudaria para tirar boas notas e assim dar alegrias aos pais, preparando-se para uma qualquer coisa na vida, que não passasse pelo enclausuramento e pela oração, sempre com a sensação de estar a ser observada pelo Além, a ponto de recear ... uma "aparição".
-"Tenho-me portado tão bem, que um dia, vai-me aparecer Nossa Senhora, e estou tramada! Tenho de ir para santa!"
E a partir daí, quando subia as escadas para o quarto, ia receosa, e ao chegar aos últimos degraus, fechava os olhos, e só os abria quando os ouvidos lhe diziam não haver nenhum santo no patamar.
E assim viveu meses, evitando subir sozinha, naquele receio, até ao dia em que achou a "solução":
-“Se me aparecer algum santo ou Nossa Senhora, calo-me, muito calada, não digo nada a ninguém! Mas para santa é que eu não vou!”
E passou a viver em paz!
Sem comentários:
Enviar um comentário