domingo, 18 de abril de 2010

Camus - A Queda

















Estavas na prateleira a chamar-me há semanas. Tinha a ideia de te ter lido na adolescência e de algum modo estavas no meu inconsciente, mas foi como se te tivesse lido pela primeira vez.
Podia escolher mil frases, mas a proximidade do 25 de Abril leva-me à página 199.

"No fim de contas, aconteceu-me fazer da liberdade um uso mais desinteressado e até, avalie a minha ingenuidade, defendê-la duas ou três vezes, sem chegar, lá isso é verdade, a ponto de morrer por ela, mas correndo alguns riscos. Tem de se me perdoar estas imprudências; eu não sabia o que fazia. Não sabia que a liberdade não é uma recompensa, nem uma condecoração que se festeje com champanhe. Nem, aliás, um presente, uma caixa de bombons para lamber os beiços. Oh!, não, é uma estopada, pelo contrário, e uma corrida solitária, bem extenuante. Nada de champanhe, nada de amigos que ergam a sua taça, olhando-nos com ternura. Sozinhos numa sala sombria, sozinhos no banco dos réus, perante os juízes, e sozinhos a decidir, perante nós mesmos ou perante o juízo dos outros. Ao cabo de toda a liberdade há uma sentença; eis porque a liberdade é pesada de mais, sobretudo quando se sofre de febre, ou nos sentimos mal, ou não amamos ninguém."

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