terça-feira, 6 de abril de 2010

SIV






Trimmmmm, trimmm, trimmm !!!!
- "Sim! Serviço de Urgência!"
- "Daqui CODU! É para avisar que dentro de 5 minutos irá dar aí entrada, um homem de 85 anos, em provável edema agudo do pulmão. Vai numa ambulância SIV, que iniciou manobras de Suporte Imediato de Vida."
- "Ok! Boa noite! Cá o aguardamos!"

- "Enfermeiro! Veja se a Sala de Emergência está pronta, que eu vou pedir à Anestesia para descer. Vai chegar um doente para Reanimação."
...
Abrem-se portas, disponibilizam-se recursos e ficamos à espera, enquanto ultimamos pequenas coisas sempre pendentes.
Eis que surge lá ao fundo uma maca envolta em fardas, umas amarelas e outras vermelhas, que desliza rápida pelo corredor e, num minuto, um homem está deitado na mesa da Sala de Emergência, monitorizado. Tudo como nos filmes.
Dirijo-me a um dos enfermeiros que o trouxe:
-"Então Elisa, onde é que o foram buscar?"
-“Estava em Fanhões. Vive com uma filha, que deve estar aí a chegar, e que nos disse que está acamado há um ano, depois de um AVC o ter deixado afásico e totalmente dependente, mas a fazer-se entender. Tomava esta saca de medicamentos. Hoje passou o dia “esquisito” e à tarde começou a ficar com falta de ar. Quando lá chegámos estava dispneico e suado, TA: 80/40 mmHg. P: 100/minuto. Foi só o tempo de o meter na ambulância e trazê-lo. ... A VMER tinha ido acorrer a um acidente para os lados da Malteca. ... Aqui à entrada do Hospital, piorou e deixou de respirar. Metemos-lhe o Ambu, e viemos com ele assim por aqui dentro!".
Todos ouvimos a história, enquanto se entubava, ventilava e monitorizava o doente.
...
O traçado ECG no monitor é irregular.
- "Tem tensões?" pergunto, ao ver dois traços no local onde elas já deviam ter aparecido.
– "Não tem! Ponho aminas?" pergunta o enfermeiro Manuel.
...
Olho para o homem. Emagrecido, com fralda, sem dentes, com uma mão anquilosada sobre o peito, os pés em hiperextensão, de quem já nem levantes faz, e lembro-me do ar jocoso de um médico velhote que conheci em Vila Real há uns trinta anos, quando me via correr atrás de casos bem menos graves que este: “Pois é! Vocês tratam-nos à moderna, mas eles morrem à antiga!” e decido:
- "Vamos parar com isto. Está bem!?”

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