sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Carta aberta a Fernando Nobre


Meu caro Fernando:
Tudo se prepara para o Cavaco. Estás no país errado, à hora errada, e nem os pobres te entendem! Confesso que eu próprio questiono a tua capacidade para ter mão nesta nau, onde os rombos surgem de todos os lados e os marinheiros não sabem onde é bombordo. Depois há os piratas, a falta de vento, o Adamastor já ali, e tu sem um Bartolomeu Dias a abrir caminhos.
Pensa bem e vais ver que é melhor assim. Ias dar o peito por um povo onde rareia a consciência colectiva, e que ignora equilíbrios e qualidade, e que mede tudo pelo muito.
Talvez daqui a três gerações (se houver alteração das condições de vida e da cultura subjacente) tivesses público. Mas não te zangues! Diz como o Nietzsche - “há homens que nascem póstumos!” e continua, porque o teu futuro não é na presidência, enquanto o individualismo for a bandeira de todas as nossas religiões.

Depois há “os Partidos e clientelas” que te iriam infernizar a vida, se te pusesses a defender os pobres e quem acrescenta ao que recebe. É disso que o Cavaco fala quando diz que é o garante da estabilidade, e tem razão. Ele representa mais de 50% dos votos que o elegem (os outros 50% trauteiam a música, sem saber a letra), porque esses acreditam no modelo do “fura-vidas” e do "vale tudo" para mexer as agulhas com que o país se cose.

Fizeste uma campanha fraca, mas não inútil. Alertaste para a necessidade de inverter políticas, e para os riscos de voltarmos a um novo PREC com “poder na rua”. Foste pouco motivador, como que a sentir que a malta do dinheiro que cerra fileiras à volta do Cavaco te podia puxar o tapete.

Deixa lá! Mantém-te na reserva. Faz exercícios de colocação da voz, para que a emoção fique sempre abaixo das cordas vocais e vai dando notícias, que há mais vida para além das eleições!

Um abraço!

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