segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

“A ignorância é muito atrevida”


Tropeçamos todos os dias nos meios de comunicação com os pareceres do “grande público e seus representantes”. Dá que pensar tanta solução vinda de um povo que raramente lê um livro!

Numa crónica, o Umberto Eco fala sobre o “incipiente”, definindo-o como aquele indivíduo pouco favorecido física e intelectualmente, que na tasca da aldeia, era embriagado pelos seus cruéis conterrâneos para o levar a fazer coisas inconvenientes e ordinárias.
O incipiente moderno, da aldeia global, não é necessariamente um atrasado. É um indivíduo normal, que por viver uma qualquer desgraça, é encorajado a expor-se, como antigamente se encorajavam os anões e as mulheres com pelos a exibirem-se nos parques de diversões.

2 comentários:

Anónimo disse...

O filósofo Sócrates (nada de confusões!) da antiguidade considerava-se ignorante. Dizia só saber que nada sabia.
Alguns séculos mais tarde, apreceu Pico della Mirandola a publicar a sua obra "De Omni Re Scibili", na qual tratava de tudo o que se pudesse saber ... e de mais algumas coisas!.
Tornou-se então clássica a expressão "De omni re scibili et quibusdam aliis", para ironizar pessoas que tudo pretenden saber.
Não faltam hoje, por cá, pessoas que, investidas em cargos de responsabilidade, são capazes de tomar decisões que muito afectam as nossaas vidas, sem análise ponderada dos problemas envolvidos e, muitas vezes, desprezando pareceres de pessoas mais qualificadas nas matérias em causa.
A ignorância é, de facto, muito atrevida! O que é grave é nós sofrermos as suas consequências!
Isto não é rebimbó-malho! Eu senti isto, muitas vezes, na pele!
Para os grandes ignorantes, foi já instituído o Prémio IG Nobel. Acho que, em Portugal, já alguém poderia ter-se candidatado.

wolverine disse...

Não tenho grande experiência no "antigamente" mas parece-me que "incipientes" com opinião é coisa que existe desde que há vida humana na terra.
A grande diferença é que enquanto antigamente uma opinião era escutada presencialmente apenas por um punhado de pessoas, hoje em dia surge logo uma câmera ou um microfone que a amplifica ad nauseum.
É seguramente um dos piores tipos de "poluição", sonora, visual e cultural, e vai requerer o desenvolvimento continuado de uma arte que estava meia perdida: a nossa capacidade de escolha, de seleccionar só o que nos interessa e de ignorar o resto.