domingo, 6 de janeiro de 2008

Lethes:

O Lethes é um rio mitológico que atravessa o Hades

Primeiramente, Gaia une-se a Urano – Éter e Terra e dão à luz os titãs e titanesas. Um dos filhos é Mnemosine (Memória), a guardiã de toda a lembrança, produtora da eternidade e guardiã dos feitos dos homens.

Depois da guerra com os Titãns pelo Olimpo, Zeus dividiu o mundo entre ele e os seus irmãos: Poseidon e Hades.
Zeus reinou sobre o céu e sobre os seres vivos, Poseidon sobre os mares e sobre todos os seres que por ele passavam, e Hades reinou sobre os mortos.

Mais tarde, Zeus une-se à Mnemosine (Memória) e dá à luz as Musas, feitoras das artes, formas de memória de construção poética.
Em Mnemosine está guardada a verdade dos factos; contra ela é impossível manterem-se as omissões e o falso – o passado permanece.

Havia cinco Rios que separavam o Hades do mundo dos vivos:
1: Aqueronte – o rio dos Infortúnios
2: Cocito – o rio dos Lamentos
3: Flegeronte – o rio do Fogo
4: Lethes – o rio do Esquecimento.
5: Estigia – o rio do Ódio.


As almas dos homens que morriam, eram transportados na barca de Caronte para a outra margem do Rio Aqueronte, onde se situava a entrada do reino de Hades. O acesso dava-se por uma porta de diamantes junto à qual Cérbero (#) montava guarda. As almas conservavam a forma humana, mas não tinham corpo, nem se podia tocá-los. Vagueavam pelo Hades, mas também podiam aparecer no local da sua sepultura. O tempo aí era abolido.
Era costume grego colocar uma moeda, chamada óbolo, sob a língua do cadáver, para pagar a Caronte pela viagem. Se a alma não pudesse pagar, ficaria forçosamente na margem do Aqueronte para toda a eternidade, e os gregos temiam que pudesse regressar para perturbar os vivos.

Normalmente só os mortos entravam no Hades, que ficava bem por baixo da terra. Não havia processo de comunicar eles. Não havia dor nem alegria e reinava o silêncio.
os mortos aguardavam uma outra vida terrena, pois ao fim de algum tempo, iriam beber a água do rio Lethes, esqueceriam a sua existência prévia e renasceriam para a terra dos vivos, para se tornarem cada vez mais sábias. Assim o Hades era um local de repouso entre encarnações.

O Rei Hades, que usava um gorro feito pelos Cyclopes que o tornava invisível, e a sua esposa Persephone viviam num palácio na companhia de Thanatos (rei dos Mortos), Hypnos (deus do sono), Nix (a Noite), Moirae (Fatalidade – não era um deus mas um poder misterioso e tremendo, mais forte que os deuses; menospresá-la era chamar Nemésis – Ira Justa), Eríneas (as Fúrias), Tartarus (Punição), Elysium (Recompensa) e outros.
Lethes é o deus da ocultação e do esquecimento. Nasceu para apagar a lembrança.

A verdade grega está na contestação radical ao status desses deuses todos, conhecedores da não permanência. Verdade é, pois, aletheia, uma palavra composta por a- prefixo de negação “não” e lethes, a ocultação.
A verdade é a não ocultação, o não-esquecimento, a memória.

Os Mitos funcionam através da analogia, símbolo, metáfora e alegoria. Através deles, podemos fazer conecções e associações entre coisas que não parecem estar conectadas, e que até não pareçam racionais. O Mito chama o subconsciente para a imaginação. O pensamento mitológico é de facto um pensamento poético e como a poesia, contém as verdades básicas, não só acerca do que significa ser humano, mas também da condição humana.

(#) Cerbero: era um monstruoso cão de múltiplas cabeças e cobras ao redor do pescoço, que guardava a entrada do Hades. Deixava entrar as almas, mas nunca as deixava saír e despedaçava os mortais que por lá se aventurassem. Para acalmar a sua fúria, os mortos jogavam-lhe um bolo de farinha e mel que os seus entes queridos haviam deixado no túmulo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom o seu texto, parabéns!

capitão disse...

Obrigado!
A mitologia grega fundamenta a nossa cultura. É uma pena que não tenha maior divulgação!

Nina Neviani disse...

Olá!
Coloquei um link para esse texto seu no último post do meu blog (http://ninaneviani.blogspot.com).
Espero que não se importe.
Abraço!