sexta-feira, 15 de maio de 2009

Pobre de Dinheiro



A D. Maria mora num pardieiro, com um jardim cimentado.
Vive da reforma e tem a ajuda do Centro de Dia da Junta de Freguesia. Apoia-se numa bengala e veste várias camisolas, que tapam à vez os buracos da que lhe precede. Não está suja, talvez porque agora pouco mais faz que ir da cama para aquele cadeirão electrificado a um canto da cozinha.
Uma vez por semana levam-na ao Hospital, para os tratamentos, mas “ainda está muito boa da cabeça” e “manda como quer”. Dá-se mal com os velhos do Centro e com os sobrinhos afastados que lhe restam da pouca família. A sua companhia é um pequeno cão nervoso, sempre à espera de atenção.
Diz não ser rica, embora a casa seja sua, bem como vários terrenos de cultivo na veiga, agora abandonados, e mais não sei quantas bouças de pinheiros e mato nos arredores da aldeia.
"Trabalhou muito para os ter", "de sol a sol", até àquele malfadado dia, em que caiu da meda de palha. E muito boa foi ela em se calar, porque senão a patroa teria de pagar todos aqueles meses no Hospital e mais uma choruda indemnização. Mas ela era boa pessoa, e aceitou a proposta de ser herdeira.
-“Olhe, eu tinha também o usufruto daquela casa grande ao pé da sua! Mas a família da minha ex-patroa  insistiu muito, e foi com aquele dinheiro que eu comprei esta aqui. É fria, mas tenho terreno até bem para lá dos pinheiros que se vêm daquela janela”.
-“Dona Maria! Eu queria que a Sra. me vendesse a bouça que fica perto da minha casa”, insisto, depois de lhe ter ouvido a história, "mas não a quero pagar como área de construção, que ela está em zona florestal".
-“Isso é agora! Você vai ver que, daqui a uns anos, vai lá poder construir!” , e endireita-se na cadeira com ar de profissional do negócio.
-“Oh dona Maria! Daqui a esses anos, nem você nem eu cá estamos, e as poucas árvores que lá estão, não valem nada!"
-“Por esse preço não vendo!”
-“E eu, pelo preço que a Sra quer, também não compro!”.

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