Era um homem bonito, com conhecimentos, bons rendimentos e tudo aquilo que uma mulher deseja se quer uma família.
Ao domingo, as mães levavam as filhas às primeiras filas, para lhes expandir as oportunidades, na certeza de que Deus ajuda quem se senta no círculo do seu chapéu. À semana, nas aulas, sentia que umas exultavam volúpias em seu redor, a obrigá-lo a disfarçar fragilidades, e outras se chegavam, inocentes, como a solicitar a carícia que em casa lhes faltava.
-Porque Não?
-Porque NÃO!
Nuns dias, a mão fugia-lhe para subtilezas carinhosas. Noutros, mortificava-se em fórmulas aprendidas, para embutir os devaneios para que a mente resvalava.
-Porque Não?
-Porque não!
Mais tarde aceitou-se construído como aos demais. Lia e relia para entender a Vida, e concluir que ela não mais era que uma persistente luta pela subsistência e pela reprodução, e que o ofício lhe vedava esse tão simples milagre, que é o dar vida a nova vida, quando se encontra quem nos completa e nos faz sentir que o ser que irá nascer, será obrigatoriamente melhor que qualquer de nós.
-Porque não?
- Porque ...!
As histórias dos abusos do clero sobre menores e adultos vulneráveis, pesavam-lhe e a condicionavam-lhe os gestos, enquanto vivia a ilusão do fim do celibato, por ver esvaziarem-se os seminários e o crecimento das dificuldades para manter a estrutura da Igreja.
-Porque Não?
-Porque ...?!
Agora, para lá do meio da vida, com obra feita, voltara a sentir os impulsos. Menos intensos, mas mais prementes.
-Porque não? E, temeroso, abriu
uma frincha à líbido.
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