domingo, 5 de fevereiro de 2012

Carta ao Álvaro


Caro Álvaro:

Desculpa estar aqui a tutear-te, mas foste tu que o pediste, quando vieste, há uma meia dúzia de meses, com essa vontade eufórica de resolver a questão em duas penadas. Parecias um daqueles craques que chega ao aeroporto, convencido que vai marcar golos porque vem de um outro campeonato.
Lamento dizer-te, mas mesmo que sues a camisola, vai ser difícil, porque a malta já está a pensar em não te passar a bola, por causa dessa tua guerra contra os feriados e o Carnaval, para … “aumentar a produtividade” do país, porque não é esse o caminho.
O caminho é assegurar que as lideranças no sector público e no privado, não vivam na dependência de clientelismos e de “Yes men” para cobrir todo tipo de falcatruas. Aí ainda não mexeste e há muitos patetas a insistir na preferência pessoal, sem notar que as melhores soluções estão em quem não está para os aturar. Se não pões cobro a isto, vamos de mediocridade em mediocridade, só porque te é mais fácil aumentar o nº de horas de trabalho.

Esses lugares têm de ser ocupados por quem vê para além do jogo das “regras” e dos “objectivos” que rapidamente se corrompem em números, para que os "incentivos" os "apoios" e os "fundos" vão parar às mãos erradas.
O que lhes vale é a malta andar com a corda na garganta a pensar em como pagar a Escola dos filhos e as prestações da casa e do automóvel, sem veleidades de discordar do que quer que seja. São as dívidas e a perspectiva do desemprego que lhes calam fundo no peito. Mas isto é enquanto o magro ordenado cair ao fim do mês, senão vais ver crescer uma nova "primavera árabe", que até a Igreja já preconiza.
E tu está-te a pôr tão a jeito, que vai dar vontade de fazer tiro ao Álvaro.
Aceita um conselho. Mantém a cadeira em Vancouver, pelo menos até ao fim do ano, e fala com as pessoas que têm filhos pequenos ou velhos a seu cargo, e pergunta-lhes se estão disponíveis para os entregarem aos Infantários e aos Lares, para que possam dedicar toda a sua vida aos empregos.
Diz qualquer coisa, que eu fico à espera.
Até à próxima.

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