quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Como o tempo muda!


Com pouco mais de sete anos, apanhava gafanhotos de oito centimetros, embrulhava-os em papel de jornal e puchava-lhes fogo, para ouvir o que me parecia um chorar, e por me custar a acreditar que aqueles olhos grandes fossem capazes de lágrimas, repetia o gesto, sem nada concluir, porque muitos morriam estoicamente calados. Aos dez anos testei dois cães, na caça a um gato das redondezas, e dei-lhes a classificação de “mau”, por me obrigarem a abanar a árvore onde o desgraçado tinha achado refúgio. Com doze anos, ia aos passarinhos para mostrar a minha pontaria. Mais tarde, com a ajuda de um pescador desportivo, tirei kilos de barbos e tainhas do rio que deixámos apodrecer, por se alegar o seu mau sabor.

Só adulto feito, me apercebi da gratuitidade destes gestos, porque, até lá, tudo isto me parecia normal. Tão normal como me é agora, pôr insecticida nas formigas ou herbicida nas silvas do jardim.

... mas o meu neto teve um castigo, no Infantário, por ter morto publicamente um caracol.