Ensinar para fornecer o “pacote de informação” necessário para uma boa integração na sociedade onde irá viver.
Ensinar, para dinamizar a sociedade e não para transformar o Ensino num negócio, que crie doutores para o desemprego, em desfavor dos profissionais necessários eficientes.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Ensinar para quê?
domingo, 30 de agosto de 2009
Pablo Casals
Pau Casals i Defilló ( 1876 – 1973) mais conhecido como Pablo Casals, foi um marco na história da música.
Casals revolucionou a técnica do violoncelo, que até então estava relegado para acompanhamento, e deu-lhe a dignidade de um instrumento solista.
Foi ele que descobriu “a magia e o mistério” das Suites para Violoncelo de J. S. Bach (1720), que até então estavam desclassificadas como exercícios frios e académicos.
Em 1906 associou-se a Guilhermina Suggia, que estudava com ele e que começou a aparecer nos concertos como Mme. P. Casals-Suggia, embora nunca tivessem casado. Esta relação terminou em 1912.
Em 1914 Casals casa com uma americana da alta burguesia - Susan Metcalfe; separa-se em 1928, mas o divórcio só surge em 1957, para se casar de novo, aos 80 anos, com Marta Montáñez, de 21, que estudava violoncelo en Nova York e lhe fora apresentada para uma audiência, aos 15 anos.
Era um republicano ardente. Exilou-se após a vitória de Franco na Guerra Civil de Espanha, para só lá voltar após o estabelecimento da democracia.
Nas palavras de Thomas Mann, ele era “o símbolo da indissolúvel união entre a arte a moralidade”, outros concordaram dizendo que "a sua simplicidade, grandeza e integridade restauram a nossa fé na natureza humana” e ele acentuava “ Um músico é também um homem, e mais importante que a sua música é a sua atitude para com a vida”.
Morreu aos 93 anos.
sábado, 29 de agosto de 2009
Guilhermina Suggia / Carteado Mena
Guilhermina Suggia (1885 — 1950) nasceu e morreu no Porto, mas andou por esse mundo a dar honras ao violoncelo, à vida e um pouco a Portugal, pese embora a sua ascendência italiana. O seu romance com Pablo Casals, encheu páginas dos jornais, mas em 1924 pressionada pela “saudade”, volta à pátria e casa-se (1927) com o médico José Casimiro Carteado Mena.
Guilhermina revolucionou o instrumento e abriu as portas profissionais do violoncelo às mulheres. Tinha vários violoncelos, dois deles os famosos Stradivarius (1717) e Montagna (1700), que por desejo testamentário vendeu para prémios anuais aos melhores alunos de violoncelo de Academias em Inglaterra e Portugal.
Nunca ouvi um disco dela.
O Dr. Carteado Mena (1876 – 1949), médico e oficial do exército, nasceu e morreu em Darque (Viana do Castelo). Andou pelo Porto a dar honras à radiologia de que foi um dos pioneiros em Portugal e também um dos grandes mutilados, em resultado da exposição às radiações (na altura para se aferir da dose de Rx a administrar, radiografava-se primeiro a própria mão). Também deu honras à terra que o viu nascer, que em paga lhe deu o nome a rua e à Escola EB 2,3 construída em 1990 e que é a sede do Agrupamento de Escolas de Darque.
Vi muitas radiografias com o seu logótipo perfurado, na Faculdade de Medicina do Porto, o que me espantava, porque eram de qualidade superior às do Hospital Escolar de S. João, bem mais recentes.
Ele era divorciado (tinha uma filha) e deste casamento tardio - ela com 42 e ele com 51 anos, não houve fruto.
Nunca ouvi um disco dela.
O Dr. Carteado Mena (1876 – 1949), médico e oficial do exército, nasceu e morreu em Darque (Viana do Castelo). Andou pelo Porto a dar honras à radiologia de que foi um dos pioneiros em Portugal e também um dos grandes mutilados, em resultado da exposição às radiações (na altura para se aferir da dose de Rx a administrar, radiografava-se primeiro a própria mão). Também deu honras à terra que o viu nascer, que em paga lhe deu o nome a rua e à Escola EB 2,3 construída em 1990 e que é a sede do Agrupamento de Escolas de Darque.
Vi muitas radiografias com o seu logótipo perfurado, na Faculdade de Medicina do Porto, o que me espantava, porque eram de qualidade superior às do Hospital Escolar de S. João, bem mais recentes.
Ele era divorciado (tinha uma filha) e deste casamento tardio - ela com 42 e ele com 51 anos, não houve fruto.
Moraram na Rua da Alegria n° 665, no Porto
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Receita de mulher - 2
Talvez seja por eu ser homem, mas gosto de mulheres.
Gosto do seu aspecto frágil, da sua voz melódica, dos seus gestos suaves, do seu cheiro aveludado e fresco, mas é a sua fiabilidade o que eu mais admiro.
Eu sei que os seus afectos são de difícil leitura, mas sinto-lhes a disponibilidade para os desafios sem andarem permanentemente a justificar prováveis ineficiências com “falta de condições”, tão característico dos homens.
Custa-me dizê-lo, porque sei que estou a ser injusto para muitos homens que admiro, mas sinto-me mais confortável numa equipe feminina, quando há um programa a cumprir, mesmo quando tudo se altera por gravidez ou cuidados com os filhos.
Claro que do grupo das “mulheres” estão excluídas as “machonas”, que considero grupo parente dos “amaneirados” do sexo masculino.
As “machonas” são híbridos que se perderam na perseguição de uma masculinidade impossível.
Uma mulher é a garantia de “resistir à degradação” porque não se acultura à boçalidade ou à ignomínia. Uma mulher sabe “estar” mesmo quando tudo lhe é adverso, e sabe que tudo lhe será perdoado se for feito por amor, porque a sua principal condição é segregar o cimento deste edifício onde todos nos movemos.
Gosto do seu aspecto frágil, da sua voz melódica, dos seus gestos suaves, do seu cheiro aveludado e fresco, mas é a sua fiabilidade o que eu mais admiro.
Eu sei que os seus afectos são de difícil leitura, mas sinto-lhes a disponibilidade para os desafios sem andarem permanentemente a justificar prováveis ineficiências com “falta de condições”, tão característico dos homens.
Custa-me dizê-lo, porque sei que estou a ser injusto para muitos homens que admiro, mas sinto-me mais confortável numa equipe feminina, quando há um programa a cumprir, mesmo quando tudo se altera por gravidez ou cuidados com os filhos.
Claro que do grupo das “mulheres” estão excluídas as “machonas”, que considero grupo parente dos “amaneirados” do sexo masculino.
As “machonas” são híbridos que se perderam na perseguição de uma masculinidade impossível.
Uma mulher é a garantia de “resistir à degradação” porque não se acultura à boçalidade ou à ignomínia. Uma mulher sabe “estar” mesmo quando tudo lhe é adverso, e sabe que tudo lhe será perdoado se for feito por amor, porque a sua principal condição é segregar o cimento deste edifício onde todos nos movemos.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Carta aberta aos Super-Heróis
Desculpem-me, mas não vos posso perdoar, que eu também não me perdoei sempre que a testosterona me levou à asneira.
Eu sei que agora me encontro em vantagem por vos ver com os níveis no vermelho e eu com eles em velocidade de cruzeiro, a tender para o verde, mas é por isso que sinto a obrigação de vos impedir que dêem cabo de tudo, só porque vos considerais "imortais", "honestos", "implacáveis" e mais aqueles auto-elogios que ficam bem nas 2ª e 3ª décadas, quando só sabemos a parte menos áspera da vida.
É que vocês não contam com as “incapacidades”, as “inconstâncias” e as “permissividades”, e assumem que são muito diferentes daqueles que criticam, sem saber que esse jogo de pôr os outros à prova, numa de "You are as good as your last performance", desperta reacções, que é necessário saber gerir.
George Bernard Shaw dizia que “a juventude é uma coisa boa demais para se dar aos jovens”, eu completo “se forem do sexo masculino” pois na ânsia de mostrar quem são, não têm a conveniência de entender o todo de que são parte.
Mas adiante, que muito disto são hormonas e eu sei bem o que me custou esperar, quando não entendia as implicações das pequenas coisas, e dizia: “primeiro faz-se, e depois vê-se!”, sem prever que no xadrez da vida, o movimento de um peão é decisivo.
Agora, quando, por um acaso feliz, tropeço num jovem macho "acertivo", tateio-lhe a constância e não o invejo, porque sei que não terá vida fácil no meio dos seus pares.
Agora, quando, por um acaso feliz, tropeço num jovem macho "acertivo", tateio-lhe a constância e não o invejo, porque sei que não terá vida fácil no meio dos seus pares.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Pesadelo
-Doutor, doutor! Alguém tossiu na Sala de Espera.
When a healthy volunteer coughs, he expels a turbulent jet of air with density changes that distort a projected schlieren light beam (Panel A). A velocity map early in the cough (Panel B) was obtained from image analysis. Sequential schlieren images during the cough (Panel C and video) were recorded at 3000 frames per second. A maximum airspeed of 8 m per second (18 mph) was observed, averaged during the half-second cough. Several phases of cough airflow are revealed in the figure. The cough plume may project infectious aerosols into the surrounding air. There is an increasing interest in visualizing such expelled airflows without the use of intrusive methods because of concern regarding the transmission of various airborne pathogens, such as viruses that cause influenza and the severe acute respiratory syndrome (SARS).
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Dança
“Há uma profunda sensação de bem-estar, uma estranha sensação de alargamento pessoal, uma espécie de inchar, de se tornar maior do que o mundo, graças à participação num ritual colectivo. As palavras são inadequadas para descrever as emoções suscitadas pelo movimento prolongado e em sintonia”.
A maioria de nós, hoje em dia, pensa que dançar é um ritual de acasalamento realizado por pares, ou algo que pagamos para ver profissionais realizarem no palco, mas a maior parte da dança ao longo da história tem sido um assunto de grupo. Desde o treino militar até às danças de êxtase religioso, às danças comunitárias das aldeias em ocasiões festivas e às danças tribais de povos indígenas por todo o mundo, há grupos de pessoas que se reúnem para movimentar os corpos em uníssono, por vezes durante tanto tempo que caem de exaustão ou entram num estado semelhante ao transe. O efeito em todos os casos é criar uma sensação de unidade entre os membros do grupo que dançam juntos. Quando dançam sentem que são um e podem manifestar o seu apreço comum.
Maurice de Saxe, marechal de França que viveu no século XVIII, compreendeu a natureza instintiva da dança sem precisar de a estudar cientificamente: “Façam-nos marchar em cadência. Todo o segredo, é o passo militar dos Romanos.
O poder visceral da dança tornou possível formar exércitos com pessoas que não tinham qualquer razão objectiva para combater. Pelo simples facto de marcharem ao ritmo e devido a outras actividades comuns, ficaram emocionalmente ligadas umas às outras. (…) O seu “eu” transforma-se em “nós”, o “meu” converte-se em “nosso” e o destino individual perde a sua importância central (…) Penso que isto é nada mais nada menos do que a garantia da imortalidade que torna o auto-sacrifício relativamente fácil nesses momentos (…) Posso cair mas não morro , pois isso que é real em mim continua a viver nos camaradas pelos quais dei a vida.”
Nas culturas tradicionais é raro a música assumir a forma de jovens a pavonearem-se à frente das mulheres.
Aos níveis afectivos e motivacionais, a música é um tipo de estimulante emotivo e, na medida em que faz parte da experiência de um grupo durante eventos rituais, essa estimulação promove a sincronização da emoção, da motivação e da acção desse memo grupo.
In “A Evolução para Todos” de David Sloan Wilson
domingo, 23 de agosto de 2009
Aos "meus" Médicos
“No news? Good news!”, é o que eu gosto no serviço onde estou. Aquele aspecto de facilidade que a eficiência dá, sem ninguém “em bicos de pés” a procurar notoriedade.
Não que tudo corra bem e "sem esforço", que isso é utopia, mas o ver humildade, consistência e disponibilidade na procura de soluções que não "embaracem" os pares, deixa-me descansado.
É que ser médico num serviço de Medicina Interna com 102 camas, e ter de suprir a todas as áreas das Especialidades Médicas no Internamento e na Urgência, e não só ..., é obra, principalmente quando os apoios só vêm pontualmente e se solicitados e, nalgumas áreas, só fora do Hospital é que se encontram.
Depois há os idosos com patologia múltipla a obrigar a difíceis decisões de diagnóstico e tratamento para não "transformar o idiopático em iatrogénico”, e o ter de dar apoio aos Serviços Cirúrgicos de todo o Hospital.
Aos mais velhos, que se mantêm nos postos, quando os mecanismos legais lhes permitiam já uma retirada estratégica para lugares onde o conflito e a necessidade de decisão rápida não são tão necessárias, o meu agradecimento.
Aos Internos da Especialidade, que globalmente trabalham com afinco, sem questões marginais, e onde, dia a dia, vejo maior capacidade e empenho, os maiores desejos de sucesso.
E aos médicos mais novos (IACs e Internos de outras Especialidades) que regularmente, em levas sucessivas, passam pelo serviço, quero dizer-lhes que têm sido excepcionais e que frequentemente supriram as dificuldades em seniores. Recém-formados e titubeantes, rapidamente se integraram nas equipes, fornecendo mais-valias científicas de grande qualidade, numa postura que antevejo promissora, qualquer que seja a área do conhecimento médico que abraçarem.
Não vivemos como Deus com os Anjos, que somos muitos (em média 26) e todos temos defeito, mas também é por vós que eu venho trabalhar, e me esqueço que é domingo.
Não que tudo corra bem e "sem esforço", que isso é utopia, mas o ver humildade, consistência e disponibilidade na procura de soluções que não "embaracem" os pares, deixa-me descansado.
É que ser médico num serviço de Medicina Interna com 102 camas, e ter de suprir a todas as áreas das Especialidades Médicas no Internamento e na Urgência, e não só ..., é obra, principalmente quando os apoios só vêm pontualmente e se solicitados e, nalgumas áreas, só fora do Hospital é que se encontram.
Depois há os idosos com patologia múltipla a obrigar a difíceis decisões de diagnóstico e tratamento para não "transformar o idiopático em iatrogénico”, e o ter de dar apoio aos Serviços Cirúrgicos de todo o Hospital.
Aos mais velhos, que se mantêm nos postos, quando os mecanismos legais lhes permitiam já uma retirada estratégica para lugares onde o conflito e a necessidade de decisão rápida não são tão necessárias, o meu agradecimento.
Aos Internos da Especialidade, que globalmente trabalham com afinco, sem questões marginais, e onde, dia a dia, vejo maior capacidade e empenho, os maiores desejos de sucesso.
E aos médicos mais novos (IACs e Internos de outras Especialidades) que regularmente, em levas sucessivas, passam pelo serviço, quero dizer-lhes que têm sido excepcionais e que frequentemente supriram as dificuldades em seniores. Recém-formados e titubeantes, rapidamente se integraram nas equipes, fornecendo mais-valias científicas de grande qualidade, numa postura que antevejo promissora, qualquer que seja a área do conhecimento médico que abraçarem.
Não vivemos como Deus com os Anjos, que somos muitos (em média 26) e todos temos defeito, mas também é por vós que eu venho trabalhar, e me esqueço que é domingo.
sábado, 22 de agosto de 2009
Up or Out
“Up or Out” – (ou progrides ou sais), definido por Paul Cravath (1861-1940), é um modelo de gestão bem conhecido pelas grandes empresas de consultadoria.
O seu objectivo é controlar o efeito “Mar Morto”, penalizando a acomodação e estimulando o desenvolvimento dos quadros mais capazes, pois, se estes vêm poucas oportunidades para se desenvolverem dentro da organização, tendem a deixá-la, enquanto os menos talentosos e expeditos, tendem a manter a sua rotina e a impedir a modernização.
Se uma empresa permite a fuga dos seus “talentos”, vai ter necessidade de os retomar (a eles ou aos seus equivalentes) como assessores, e aí o seu preço é muito superior.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Os Cuscos
O Cusco existe em todas as espécies animais, mas no homem assume particular expressão. Ser Cusco é um estado de alma, uma pulsão acima de qualquer conveniência, que impele para a presença onde só atrapalha.
O Serviço de Urgência de um Hospital, é um dos locais eleitos dos Cuscos, que surgem de todo o lado, dos doentes e seus familiares, aos profissionais (mais difíceis de controlar).
É na Sala de Emergência que são mais perniciosos. É o socorrista que persiste, são os auxiliares e os enfermeiros de uma outra área que entram e ficam sem função. Os médicos são os que menos cuscam.
Nenhum deles ajuda, apesar do seu pseudo-propósito. Primeiro porque raramente são necessários, e depois, porque não se disponibilizam para suprir as falhas nos sectores deixados a descoberto.
O Cusco não observa para aprender porque o Cusco “já sabe”. O Cusco quer ver "para contar", de início, logo ali para distrair quem trabalha e mais tarde, no seu círculo, com pele de repórter de tablóide, a ampliar os factos, acertando a realidade à exigências do público daquela hora.
O Serviço de Urgência de um Hospital, é um dos locais eleitos dos Cuscos, que surgem de todo o lado, dos doentes e seus familiares, aos profissionais (mais difíceis de controlar).
É na Sala de Emergência que são mais perniciosos. É o socorrista que persiste, são os auxiliares e os enfermeiros de uma outra área que entram e ficam sem função. Os médicos são os que menos cuscam.
Nenhum deles ajuda, apesar do seu pseudo-propósito. Primeiro porque raramente são necessários, e depois, porque não se disponibilizam para suprir as falhas nos sectores deixados a descoberto.
O Cusco não observa para aprender porque o Cusco “já sabe”. O Cusco quer ver "para contar", de início, logo ali para distrair quem trabalha e mais tarde, no seu círculo, com pele de repórter de tablóide, a ampliar os factos, acertando a realidade à exigências do público daquela hora.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
terça-feira, 18 de agosto de 2009
O Tempo
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
domingo, 16 de agosto de 2009
Navegar por Instrumentos
Para se poder pilotar um avião com segurança é necessário aprender a voar por instrumentos, pois estes são mais fiáveis que os nossos sentidos. Isto é, se os instrumentos te estão a dar instruções que os teus sentidos pensam ser erradas, deves fazer como eles mandam e não como tu sentes. De algum modo isto corresponde ao “faz o que eu te digo e dá ao diabo o que sabes!”
As crenças religiosas são um dos modos de produzir comportamentos bem sucedidos. Como importa mais o que se faz, do que a razão porque se faz, funcionam como instrumentos à navegação das sociedades humanas.
Qualquer religião tem duas dimensões: uma horizontal que leva à construção de comunidades fortes, à entreajuda, à transmissão de valores, que é coerente com o conhecimento factual à época em que se desenvolveram, e outro vertical (irracional) tão diverso quanto as religiões, mas que dá a força à componente horizontal.
Com a passagem do tempo, no seu esforço para alcançarem o realismo prático, têm tendência para se afastarem do realismo factual e aumentam a sua componente vertical.
É nesta fase em que estamos, com a consequente crise de valores.
sábado, 15 de agosto de 2009
Pensamento à hora do almoço
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Canción Mixteca
É a música de fundo. Fui buscá-la ao filme - Paris, Texas (1984). Toca Ry Cooder. Gosto assim mais que com vozes.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Faz de conta.
Faz de conta que trabalhas!
Faz de conta que te envolves!
Faz de conta que pensaste
Faz de conta que resolves!
Faz de conta que não escondes
Faz de conta que és leal
Faz de conta que lamentas
Faz de conta que és o tal
Faz de conta, faz de conta
Faz de conta, não está mal
Faz de conta que há coragem
Estás aqui, em Portugal
Eu de poeta a lembrar-me de alguém em quem não confio.
Eu de poeta a lembrar-me de alguém em quem não confio.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Clichés
A comunicação pela linguagem deve ser rica e variada.
O cliché é uma unidade fraseologica (um agrupamento de palavras) surrado pelo uso.
O seu uso regular indicia falta de imaginação e pobreza de estilo.
Na linguagem "modernosa" e tecnocrática os clichés vazios são muletas toscas.
Aqui vai um dos que mais ouço: - “colaborante dentro das suas possibilidades!” , que só comparo com o que ouvi numa peça de teatro do absurdo, de Arrabal, em que o fidalgo perguntava ao mordomo: "E os criados de onde são?" e este lhe respondia: "Todos são de seus lugares!"
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Apoio à Triagem
-“Por favor Dr. PC! Tenho uma dúvida sobre o que fazer com este doente, pode-me ajudar?” , perguntava no Serviço de Urgência, aquele médico recém-formado ao Internista em fim de carreira, já mais votado à sua rotina que às incursões teóricas de quem procura os porquês por detrás das decisões e, sem mais esperar, desbobina o relato das alterações que identificara.
O Dr. PC, homem de uma medicina prática, solitária, dura e crua, com a ciência moldada pela terra, responde-lhe com ar elucidativo:
-“Olhe! Dê-lhe uma dessas coisas que se costumam dar habitualmente nessas situações!”
domingo, 9 de agosto de 2009
sábado, 8 de agosto de 2009
Cedro do Incenso (Calocedrus decurrens).
Comprei-te porque te associei aos Reis Magos e admirei-te como uma jóia.
Mais tarde concluí que não foste tu que deste fortuna à Rainha do Sabá e quem mobilizou caravanas pelos desertos da Arábia para que os cultos do Egipto, Palestina e Roma presenteassem os seus deuses com a tua fragrância. Tu nesta altura andavas esquecido pelo oeste americano e só muito mais tarde foste incluído como resinosa para Incensos.
Não és a verdadeira árvore do incenso, uma Boswellia sacra, cuja resina chegou a ser mais preciosa que o ouro, mas também eu não sou o Rei Salomão a quem a dita rainha visitou para lhe ouvir a sabedoria e lhe levar um filho no ventre, por isso, estamos quites e aceitamo-nos mutuamente como dois plebeus.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
o Afogado
-É pá! Larga tudo e vem comigo!
-Mas quê? É alguma coisa urgente?
-Anda, que depois vês!
E arrastava-me pelos corredores, pela enésima vez, com a sensação de que havia mais barulho na sua cabeça que no corpo do doente.
Era assim desde que o conheci, com aquela ansiedade à flor da pele, a chamar recursos para que nenhuma responsabilidade lhe pudesse ser assacada.
-E foi para isto que me obrigaste a vir a correr? ... Eu não estou aqui para tratar a tua ansiedade! ... Vais-me desculpar, mas eu volto para onde estava e venho cá depois!
-Faz como quiseres! Mas eu vou escrever, que tu vieste cá e que não fizeste nada! E se qualquer coisa acontecer, já não é comigo!
…
Era incapaz de resolver um problema sozinho, tinha que ter sempre alguém por perto e, se deixava qualquer situação instável, era o telefone que lhe dava continuidade, para que se não dissesse que ele não cuidou.
Talvez fosse obsessivo/compulsivo!
-Mas quê? É alguma coisa urgente?
-Anda, que depois vês!
E arrastava-me pelos corredores, pela enésima vez, com a sensação de que havia mais barulho na sua cabeça que no corpo do doente.
Era assim desde que o conheci, com aquela ansiedade à flor da pele, a chamar recursos para que nenhuma responsabilidade lhe pudesse ser assacada.
-E foi para isto que me obrigaste a vir a correr? ... Eu não estou aqui para tratar a tua ansiedade! ... Vais-me desculpar, mas eu volto para onde estava e venho cá depois!
-Faz como quiseres! Mas eu vou escrever, que tu vieste cá e que não fizeste nada! E se qualquer coisa acontecer, já não é comigo!
…
Era incapaz de resolver um problema sozinho, tinha que ter sempre alguém por perto e, se deixava qualquer situação instável, era o telefone que lhe dava continuidade, para que se não dissesse que ele não cuidou.
Talvez fosse obsessivo/compulsivo!
Mas que raio de doença para aquela responsabilidade!
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Saúde Mental
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Aforismos
Walter J. Ong (1912-2003), estudou o processo de transição das culturas orais para a cultura escrita.
No seu livro Orality and Literacy, afirma que escrever alterou fundamentalmente o carácter do pensamento humano. Nas culturas puramente orais, tudo o que é sabido tem de ser recordado através de inúmeras repetições, o que põe enormes limitações à organização do conhecimento e da comunicação. Escrever permitiu-nos armazenar informações fora das nossas cabeças, libertando as nossas mentes para novas actividades.
…
Os aforismos são fórmulas que ajudam a implementar o discurso rítmico e também funcionam como auxiliares mnemónicos.
…
Os aforismos são fórmulas que ajudam a implementar o discurso rítmico e também funcionam como auxiliares mnemónicos.
Nas sociedades orais, surgem incessantemente e formam a essência do próprio pensamento.
Nas sociedades actuais, emboram se usem como pepitas de informação memoráveis, eles desempenham um papel insignificante nos nossos pensamentos e conversas.
domingo, 2 de agosto de 2009
Sensibilidade à Desigualdade
Esperança de Vida, desigualdade económica, homicídio e idade de reprodução nos bairros de Chicago. BMJ. 1997 Apr 26;314(7089):1271-4.
O estudo reporta-se ao período entre 1988 e 1993.
Estudou as 77 áreas residenciais de Chicago e evidencia a grande variação destes parâmetros entre os bairros mais ricos e os mais pobres.
Esperança de Vida é à nascença de 54,3 anos para os mais pobres e de 77,4 anos para os mais ricos, e a taxa de Homicídio é de 156 e de 1.3 por 100 000 habitantes por ano, respectivamente.
A sensibilidade à desigualdade é um aspecto psicológico que afecta os jovens adultos do sexo masculino, que “consciente ou inconcientemente" os leva a aceitar correr grandes riscos como táctica de competição social para obter rapidamente "estatuto ”, quando são baixas as expectativas de sucesso com tácticas de baixo risco (p. Ex. tirar um curso).
Este facto agrava os efeitos previsíveis da pobreza (nutrição, acesso a cuidados médicos, segurança social…) sobre a Esperança de Vida, por aumentar a taxa de homicídio e de outras causas externas de mortalidade.
A Idade de Reprodução mais precoce nos bairros mais carenciados, é uma opção motivada por um curso de vida mais curto com um “desgaste” mais intenso, de modo a poderem criar os filhos e conhecer os netos.
sábado, 1 de agosto de 2009
Olhos
Quando olhamos para uma pessoa, mesmo a uma distância considerável, graças ao contraste entre a esclerótica e a íris, podemos ver com nitidez para onde os seus olhos estão a apontar, independentemente do sítio para onde o seu rosto está a virado. De mais perto, podemos ver se os seus olhos estão dilatados, graças ao contraste entre a íris e a pupila. O poder emocional e comunicativo dos olhos é tão grande que lhes chamamos “as janelas da alma”.
Somos a única espécie de primatas que possui janelas através das quais os outros podem olhar. Em todas as outras espécies a esclerótica é pigmentada de modo a fornecer um contraste baixo, e não alto, com a íris e o resto do rosto. Além disso, em comparação com outros primatas, nos seres humanos a porção de olho visível é desproporcionadamente grande e alongada no sentido horizontal. Os gorilas são maiores que nós, mas a porção de olhos exposta é mais pequena, o que faz os seus olhos assemelharem-se a contas. Tendo como única excepção a nossa espécie, os olhos dos primatas evoluíram para serem difíceis de ver, para ocultarem, e não revelarem informação sobre nós próprios – o equivalente natural dos óculos de sol ou das janelas com cortinas corridas.
David Sloan Wilson in “A Evolução para todos”
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