domingo, 17 de outubro de 2010

Segunda Carta a Sócrates


Caro Sócrates:
É a segunda vez que te escrevo, para te dizer mais ou menos a mesma coisa que te disse em 7 de Fevereiro de 2010, mas como desde então o país pouco mudou, venho lembrar-te alguns dos meus porquês, porque corres o risco de ser reeleito, pese embora o António José Seguro te andar a seguir a sombra.
Não te falo do Orçamento (pois nas aflições é vender os anéis para salvar os dedos), falo-te das razões de chegarmos a este ponto.
Podes dizer que o mal já vinha de trás e que o contexto internacional nos foi desfavorável, e mais isto e mais aquilo, que justificações não te devem faltar, mas mete a mão na consciência e pergunta-te se fizeste alguma coisa pelo “rigor”.
Deves conhecer esta palavra, que significa “ser preciso”, controlando os gestos para que haja eficácia, que é uma coisa que dá trabalho, pois exige muito estudo e empenho para que se não faça de qualquer maneira.
Tu facilitaste que nos últimos 15 anos, o país se deslumbrasse com os computadores, e o resultado está à vista. Os quadros do Estado foram obrigados a “registar”, mais do que a executar. Os médicos, os enfermeiros, os professores, os psicólogos e gestores (à carrada) e os engenheiros de todas as Instituições, passaram a “registar”, para que não os incomodassem na sua actividade diária, sem que se avaliasse a utilidade desse registo ou a qualidade do gesto a que teoricamente corresponde, e Portugal ficou cheio de informação que ninguém irá ler e com necessidades informáticas cada vez mais pesadas. Será isto a tal "sociedade tecnológica"!
Não basta ensinar, é necessário que se aprenda o que é útil para se viver em sociedade e numa profissão. Não basta ter, é necessário saber usar eficientemente. Não basta falar em objectivos cumpridos, se o que deles retiramos são números com escasso conteúdo, que só nos alienam por nos levarem a julgar com direitos que só povos muito mais rigorosos que nós conseguiram.
Somos um pequeno país, com uma população a envelhecer, e damo-nos ao luxo de lógicas onde impera o facilitismo, com o fundamento da … “inclusão”, que não são mais que um “nivelar por baixo”.
Não abriste a porta aos nossos melhores. Esses são diariamente ameaçados por aqueles que dizem “sim” ao poder qualquer que ele seja, que dão garantias de permissividade com a corrupção, que vivem numa lógica de que “não sou eu que vou endireitar o mundo” e assim dão seguimento às ordens, sem avaliar as condições para a sua implementação, para que o registo no papel passe a ser a verdade que se não verifica, porque tudo está atamancado e ao mínimo sopro se desmorona.
Foi isto que permitiste. Um país “atamancado”, onde se tropeça constatemente em expedientes, e onde poucos questionam os verdadeiros porquês.
Estamos nas mãos dos banqueiros, que passaram a ser a gente mais séria e capaz da nossa sociedade, a par com outros políticos que a única diferença que de ti fazem, é “não terem sido eles”, porque na questão de facilitismo já deram provas iguais quando os Euros entravam país adentro e foi o desgoverno que se viu.
Agora chamam a vender os anéis quem não teve responsabilidades nessa falta de rigor, e ameçam-nos de que podem vir a ter que dar a roupa.
É esta a minha verdade, que não passa de mais uma, no meio das tantas que hoje se digladiam, e que te atanazam os miolos.
Mas és tu que tens o leme e o barco não vai no rumo certo.

Passa bem!

1 comentário:

JARRA disse...

A diferença de momento, é que tu, quiçá com razão, ainda te diriges ao homem de chapéu na mão, eu já só de tijolo ...