sábado, 6 de dezembro de 2025

Frase do dia

 


Às vezes, ... a verdade ... é aquilo com que todos concordam!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A Reforma e o Tédio



Nas redes sociais, quando encontro alguém da minha geração, o que mais me chama a atenção não é a exuberância das viagens nem o culto de afazeres emocionantes, mas um murmúrio quase permanente de tédio. É curioso, porque muitos desses mesmos que hoje confessam não saber como preencher os dias foram, durante anos, os que mais desejaram a reforma — exaustos da “canga” (como diria o meu avô paterno), persuadidos de que a simples libertação do trabalho seria suficiente para garantir o bem estar pleno.

Quando era adolescente, chegava regularmente a casa dos meus pais, a edição portuguesa das Selecções do Reader’s Digest. Detinha-me sobretudo nas pequenas histórias que encerravam cada artigo: episódios breves, muitas vezes anedóticos, que nada exigiam da mente mas que, unidos, ajudaram a formar o meu olhar sobre o mundo. Uma dessas histórias ficou-me para sempre.
Narrava-se que um homem morrera e  a sua alma fora acolhida no céu por um pajem de libré que, depois de se apresentar como “um seu criado”, lhe garantiu satisfazer qualquer seu capricho. O recém-chegado, surpreendido com tamanha disponibilidade, deu azo aos seus desejos mais íntimos e pediu, lascivo, uma jovem mulher num quarto sumptuoso, para os seus devaneios sensoriais.
O criado estalou os dedos e, imediatamente, surgiu a loura perfeita, submissa às suas extravagâncias. Seguiram-se horas de cupidez, longas refeições, bebidas abundantes, despertares tardios. Nos dias seguintes repetiu o programa; mais tarde, extenuado da luxúria, exigiu viagens — Roma, Paris, Hong Kong, Nova Iorque ... — e tudo lhe foi concedido. Até que, vários meses depois, cansado de tantas "facilidades", chamou o criado e pediu-lhe "qualquer coisa onde pudesse sentir o gosto de superar uma dificuldade". O pajem, num gesto cortês, respondeu que isso era impossível: Podia conceder-lhe tudo, menos uma tarefa. O homem indignou-se — “Que Céu é este, onde não se pode fazer nada?” — ao que o criado devolveu, imperturbável: “O senhor não está no Céu! Está no Inferno!.”

Compreendi muito cedo que o não ter que fazer me corrói a alma e sempre me surpreendeu a serenidade com que alguns se declaram felizes vivendo dias sobrepostos, feitos de televisão, rotinas mecânicas, numa repetição litúrgica do nada. A reforma, imaginada como um território de liberdade, transformada num espaço onde o tempo se alarga além do suportável. A vida ativa com ritmos, responsabilidades e  encontros, subitamente transmutada em horários irrelevantes, convivências escassas e a sensação de utilidade a extinguir-se.
Quarenta anos de trabalho não deixam apenas experiência: deixam hábito, estrutura mental, uma forma de se estar no mundo. Quando essa estrutura cai e se instala essa vertigem silenciosa, o cérebro, privado de desafios, perde agilidade; a memória embacia-se; o humor achata-se; a motivação desfaz-se como um músculo não exercitado.

Nada disto é inevitável. Com imaginação, disciplina e uma certa coragem é possível encontrar atividades com propósito, aprendizagem contínua, exercício adaptado e relações sociais vivas. Não é fácil nesta sociedade que não desenvolveu uma cultura de "lifelong learning". Mas essas portas existem e, para quem as atravessa, a reforma deixa de ser esse deserto monótono que vejo plasmado em tantos lugares por onde passo.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

A Ínclita Geração


A fotografia é 1927. São irmãos. Falta o mais velho. O mais novo ainda não nasceu. Deixaram boas memórias na família e em quem com eles conviveu. Nasceram em Constância e estudaram no Porto (no Colégio da Guia), longe da casa, onde o pai (viúvo neste mesmo ano), tinha o emprego (Macedo de Cavaleiros). Nesse período, assumiram a adversidade e formaram-se com distinção. Depois, dispersaram-se por Portugal, levando soluções de norte a sul (3 Professores, 1 Engenheiro e um Tesoureiro da Fazenda Pública). Tiveram residência (temporária ou definitiva) em Viana do Castelo, Resende, Porto, Vila Nova de Gaia, Lisboa, Beja, Faro, Funchal, Luanda. Os seus filhos, chamam-lhes - a “Ínclita Geração”, por terem sobressaído pela sua educação e sabedoria.

domingo, 2 de novembro de 2025

O mapa e o território

 


“Aqueles que passaram demasiado tempo com o nariz colado aos mapas terão tendência para confundir o mapa com o território.”

Tropecei nesta frase de O Cisne Negro, de Nassim Nicholas Taleb, e ela ficou a ecoar-me. Pensei em alguns dos conflitos que vivi com a gestão do hospital onde trabalhei, sobretudo quando, por iniciativa própria, decidi conter despesas no serviço que dirigia, tentando tratar mais doentes com menos custos em medicamentos e meios complementares de diagnóstico. Era uma tentativa de eficiência, num tempo em que essa palavra soava estranha nos corredores da administração, como se o dinheiro fosse um bem inesgotável, bastando querer para poder.

Mais de uma década depois, o discurso político muda e, pela primeira vez, o governo declara querer tornar a Saúde mais eficiente, combater o desperdício, corrigir os erros de gestão.

Mas o desperdício não nasce apenas da má organização. Brota também da pressão social exercida sobre os médicos e sobre as instituições. A Saúde é, nesse aspeto, irmã da Justiça: se queremos garantir que nenhum inocente é condenado, temos de aceitar que muitos culpados fiquem impunes.
Na Medicina, se se exige erro zero, os médicos defender-se-ão com baterias de exames e terapêuticas de eficácia duvidosa, para não poderem ser acusados de “não terem feito tudo o que era humanamente possível”. O preço é alto, e não apenas financeiro: multiplica-se a iatrogenia, o dano colateral do excesso de zelo.

Recordo-me de ter alertado um gestor para o impacto negativo que determinada decisão estava a ter sobre alguns doentes. Respondeu-me, sem hesitar, que o que o preocupava era “a floresta e não as árvores”. Noutra ocasião, pediram-me silêncio quando ousei questionar os custos da ineficiência.

Talvez alguma ineficiência seja inevitável, como o ruído que acompanha qualquer sistema vivo. Mas quando ela é evidente para quem está no terreno e invisível para quem observa de um gabinete, debruçado sobre relatórios e gráficos, é sinal de que confundimos o mapa com o território.

Mas, entre o querer fazer e o fazer, vai uma grande distância. Há que contar com os lóbis — os da indústria farmacêutica, os dos médicos, os dos enfermeiros, os dos psicólogos e ainda o da Assistência Social, que usa a muleta da Saúde para amparar o desamparo em que uma parte significativa da população cai quando a velhice ou a doença a atinge.
Ter resultados neste contexto é obra, porque é ainda maior a necessidade de não confundir o mapa com o território.

domingo, 19 de outubro de 2025

Burka e Niqab

 

Dito pelo ChatGPT:

A burka (ou burqa) é uma peça de vestuário usada por algumas mulheres muçulmanas para cobrir completamente o corpo e o rosto, incluindo os olhos (que geralmente ficam por trás de uma rede ou tecido translúcido). A sua utilidade depende do contexto cultural, religioso e social em que é usada. Eis os principais aspetos:

🕌 1. Função religiosa e de modéstia

  • Em certas interpretações do Islão, especialmente em versões mais conservadoras (como entre alguns grupos no Afeganistão ou no Paquistão), a burka é vista como uma forma de cumprir o princípio da modéstia (haya), prescrito para homens e mulheres.
  • A ideia é que o corpo feminino não deve ser exibido em público para evitar “tentação” ou “olhares indevidos”.

👩‍👧 2. Identidade cultural

  • Em algumas regiões, a burka não é apenas religiosa, mas também um símbolo cultural.
    Exemplo: no Afeganistão rural, o uso é mais uma tradição social do que uma obrigação religiosa direta.
  • Pode ser vista como um sinal de respeito, honra ou estatuto familiar.

⚖️ 3. Controlo social e género

  • Noutros contextos, o uso é imposto por normas patriarcais ou leis religiosas, limitando a liberdade da mulher.
  • Por isso, é também um símbolo de debate político e feminista, representando para uns a opressão e, para outros, a escolha identitária.

🛡️ 4. Funções práticas

  • Em regiões desérticas (como o Afeganistão ou a Península Arábica), a burka protege contra o sol, a areia e o vento, funcionando também como vestuário adaptado ao clima.

 

 DITO por MIM

O uso do Niqab e da Burka, em Portugal, é totalmente desajustado, porque neste país é importante que qualquer pessoa seja facilmente identificável no espaço público, onde uma burka pode ser usada por um homem, como máscara para cometer um crime ou para esconder violência doméstica.


terça-feira, 14 de outubro de 2025

Esteios













 Os metrosíderos morreram. Repor a sebe? A opção foram os esteios e uma tarde de trabalho. Agora é esperar que as árvores que sobraram se componham.

Estou em crer que a tela colocada para impedir o crescimento das ervas daninhas  "esganou" os troncos e matou as árvores. 
O próximo passo: retirar todas as telas do jardim que estejam a envolver árvores.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

F.C.P.


 Porto, Porto, Porto! És a nossa glória!

sábado, 27 de setembro de 2025

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Religiões

 


Muçulmano é a pessoa que segue a religião do Islão. A palavra vem do árabe muslim (مُسْلِم), que significa “aquele que se submete” (a Deus, Allah).

Para se ser muçulmano, basta que um dos pais seja muçulmano, pois o filho de um muçulmano é considerado muçulmano por nascimento (mesmo que a mãe tenha outra religião) e uma mulher muçulmana não pode casar com um homem de outra religião sem ele se converter, e não é sensato ela converter.se a outra religião porque tal é “apostasia”.

Qualquer pessoa se pode converter ao Islão. Faz Declaração da Shahada, isto é pronuncia, com sinceridade e entendimento, a frase árabe: Ashhadu an la ilaha illa Allah, wa ashhadu anna Muhammadan rasul Allah - “Testemunho que não há divindade além de Allah, e testemunho que Muhammad é o Mensageiro de Allah” perante o imam e algumas testemunhas. A aprendizagem, as práticas e a integração comunitária, vêm depois, de forma progressiva. Pode pedir um certificado de conversão (útil para casamento e para questões legais).

Em alguns países fortemente islamizadas, ser muçulmano confere plena integração comunitária, onde os não-muçulmanos são alvo de restrições (ex.: não podem fazer proselitismo, não podem construir templos, têm restrições alimentares, a herança e certos contratos civis têm regras diferentes, não têm direito a ocupar cargos de liderança política ou nas forças armadas, são alvo de impostos e não beneficiam de alguns subsídios ou apoios sociais. Em casos de divórcio a lei favorece o progenitor muçulmano, para garantir que a criança seja educada no Islão. Nota: a Igreja Católica, só aceita que o filho de mãe católica seja batizado e educado na fé cristã, se ambos os pais concordarem. Se o pai não aceitar, a Igreja não força. 

No entanto, há grande diversidade. Países como Turquia ou Albânia são oficialmente seculares e concedem quase os mesmos direitos a muçulmanos e não-muçulmanos. Já países com sharia incorporada como Arábia Saudita, Irão, Afeganistão são muito restritivos para não-muçulmanos. Em muitos lugares (ex.: Marrocos, Egito, Jordânia), a vida diária de cristãos e judeus é relativamente livre, mas com algumas limitações legais e sociais.

Apostasia: se um muçulmano declarar que já não é muçulmano, adotar outra religião ou declarar-se ateu, insultar o Islão, negar pilares da fé ou abandonar práticas fundamentais de forma pública. A sharia prevê a pena capital para apostasia. Na prática, os tribunais dão ao acusado a possibilidade de se retratar (isto é, voltar ao Islão).

Ser secularista, isto é: defender a separação entre religião e política, ou a liberdade de crença/descrença, em muitos países islâmicos é perigoso. Na Arábia Saudita, Irão, Afeganistão, Sudão, criticar a fusão entre religião e política pode ser tratado como apostasia, blasfémia ou terrorismo e levar a prisão longa, chicotadas, até pena de morte. Nos outros países, mesmo sem condenação formal, há risco de violência social (linchamentos, ameaças).

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A conversão ao Judaísmo é um processo longo, exigente e altamente regulado. Primeiro procura-se uma sinagoga ou comunidade judaica oficial e fala-se com o rabino, que vai avaliar a seriedade da intenção. Depois o candidato entra num período de estudo intensivo, sob orientação do rabino: estuda a Torá e os profetas, as festas judaicas, as leis alimentares (kashrut), o Shabat e outras práticas diárias, durante um a dois anos, porque se espera que a pessoa comece a viver como judeu ainda antes da conversão formal. Quando o rabino considera o candidato preparado, apresenta-o ao Beit Din (tribunal de três rabinos), que lhe irá fazer perguntas para avaliar se está convicto e preparado para seguir os mandamentos (mitzvot). Se o candidato masculino não for circuncidado, deve fazê-lo. Depois, homens e mulheres devem mergulhar numa mikvá (piscina ritual com água “viva”) como símbolo de purificação e renascimento espiritual. Após o mergulho, o Beit Din declara a pessoa judeu/judia e pode receber um nome hebraico. A partir daí, é considerada parte do povo judeu, sem distinção de origem.

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Os Drusos, os Alaouitas e os Yazidis encerraram as portas à conversão: só quem nasce de pais dessas religiões pode ser considerado.

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A Conversão ao Cristianismo não é igual em todas as Igrejas cristãs (Católica, Ortodoxa, Protestantes), mas há elementos comuns. Há um tempo de instrução (catequesese) e de acompanhamento, antes do Batismo, que é considerado o rito fundamental de entrada no Cristianismo. Em alguns ritos, recita o Credo (Igreja Católica e Ortodoxa) ou faz um testemunho pessoal de fé (muitas Igrejas protestantes), após o que se integra na vida comunitária.

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Distribuição religiosa mundial:
Cristianismo – ~31% (católicos, protestantes, ortodoxos e outros ramos)
Islão – ~25% (sunitas, xiitas e outros ramos)
Hinduísmo – ~15% (principalmente na Índia e Nepal)
Budismo – ~6% (sobretudo na Ásia oriental e sudeste asiático)
Tradições chinesas / religiões populares – ~6%(taoísmo, confucionismo, culto dos antepassados, práticas sincréticas)
Religiões étnicas / indígenas – ~5% (África tradicional, povos ameríndios, religiões locais da Oceânia, etc.)
Sikhismo – ~0,3% (sobretudo na Índia/Punjab e diáspora)
Judaísmo – ~0,2% (maioritariamente em Israel e EUA)
Outras minorias (bahá'ís, jainistas, zoroastrianos, drusos, yazidis, etc.) – <0,2%
Sem religião (ateus, agnósticos, “nones”) – ~16% (muito significativo na China, Europa e países desenvolvidos)

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 Na Europa Ocidental, antes da II Guerra Mundial, quase não havia muçulmanos. Após a guerra, com a imigração laboral e colonial dos anos 50–70 para os países em reconstrução (França, Alemanha, Bélgica, Holanda) e a chegada de muçulmanos de países em guerra (Líbano, Palestina, Irão), mais bósnios e kosovares e novas vagas de imigrantes do Magrebe e da Turquia, a população muçulmana multiplicou-se mais de 20 vezes. Em 2020 eram 25 milhões. Em 2025 calcula-se que sejam mais de 44 milhões. A grande maioria (≈70%) mantém-se muçulmana praticante. Cerca de 28% seguem a via da secularização (muçulmanos “culturais”, agnósticos, afastados da prática). Apenas uma pequena fração (≈2%) converte-se formalmente ao Cristianismo

Na Europa actual: - Cristãos:~72%, Muçulmanos:~5%, “Sem religião” (secularistas, ateus, agnósticos, indiferentes): ~23%

Tendências: Cristianismo: em declínio, Secularistas: em crescimento. Em alguns países (República Checa, Estónia, Holanda) já são maioria. Islão: crescimento lento mas constante, devido a taxas de natalidade mais altas e imigração.

Projeção para 2050 (Pew Research Center): Cristãos: deverão cair para cerca de 60%. Secularistas: poderão estabilizar entre 23–28%. Muçulmanos: podem crescer para 10%.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Apoteose

 


A palavra apoteose tem origem na Antiguidade Clássica. Vem do grego antigo apó = “a partir de, desde” + theós = “deus”. Literalmente, significa “transformar em deus” ou “elevação à condição divina”.

O termo foi usado no contexto grego e romano para designar a divinização de heróis, imperadores ou figuras notáveis, após a morte ou, por vezes, ainda em vida.

Em português, “apoteose” ganhou também um sentido figurado: glorificação máxima, consagração final, clímax de uma obra ou celebração.

Em Roma, a apotheosis (em latim também chamada consecratio, de onde deriva o português consagração) era o ritual oficial de divinização do imperador após a morte, reconhecido pelo Senado. O imperador falecido passava a ser venerado como divus —  uma figura semidivina protetora do Estado.

Imperadores divinizados: Júlio César – primeiro a receber apoteose oficial (42 a.C.), proclamado Divus Iulius; Augusto (27 a.C.–14 d.C.) – proclamado Divus Augustus; Cláudio (†54) – Divus Claudius;  Vespasiano (†79), Tito (†81), Trajano (†117), Antonino Pio (†161), Marco Aurélio (†180), Septímio Severo (†211). Nem todos tiveram essa honra: alguns foram alvo de damnatio memoriae (apagamento oficial da memória), como Nero, Cómodo ou Domiciano. Também várias esposas, irmãs, mães e filhas de imperadores receberam a honra, sendo veneradas como divae.

Séculos mais tarde, o cristianismo reinterpretou a ideia de “divinização”. Atanásio (c. 296–373 d.C.), bispo de Alexandria, escreveu no século IV: “Jesus Cristo encarnou para que nós, homens, pudéssemos tornar-nos deuses.” Esse processo chama-se theosis (deificação ou divinização). A natureza divina de Cristo, unida à humana, abre a todos a possibilidade de comunhão com o divino. A teologia de Atanásio foi essencial no Concílio de Niceia (325), que fixou o Credo ainda hoje rezado.

E dito isto, o Homem que já era o único ser criado “à imagem e semelhança de Deus”, com razão, liberdade e capacidade de comunhão com o Criador, consegue acesso ao Paraíso e, aquilo que em Roma dependia do Senado e da política imperial, tornou-se vocação universal.


sábado, 16 de agosto de 2025

Marinheiros

Dizia um capelão da marinha, por afinidade meu tio, que num navio só há três cordas. A corda do sino, a corda do relógio e acorda malandro. O resto são cabos.

Rei A.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

ChatGPT



Dito por si:

Escreve um obituário sobre o jorge costa

Dito pelo ChatGPT:

Pode esclarecer a que Jorge Costa se refere?
Existem várias pessoas conhecidas com esse nome (por exemplo, o antigo futebolista e treinador português Jorge Costa). Quer que seja:

  • Um obituário real (de uma pessoa pública existente)?
  • Um obituário fictício, criado para um personagem ou contexto de história?

E prefere um tom jornalístico (como num jornal) ou mais pessoal e emotivo?

Dito por si:

Sim o jogador de futebol

Dito pelo ChatGPT:

Até ao meu conhecimento (atualizado até 2024), Jorge Costa, o antigo futebolista e treinador português, ainda está vivo.
Se deseja mesmo um obituário, posso criar um texto hipotético (ficcional), como se fosse para um jornal, mantendo o respeito e um tom adequado.

Quer que avance com essa versão ficcional, ou prefere um texto biográfico sobre a carreira dele (sem falar de morte)?

Dito por si:

Sim

Dito pelo ChatGPT:

Aqui está um obituário fictício sobre Jorge Costa, o antigo futebolista:

Obituário: Jorge Costa (1971‑2025)

Jorge Paulo Costa Almeida, conhecido no mundo do futebol simplesmente como Jorge Costa, faleceu ontem aos 54 anos. Antigo defesa-central e capitão do Futebol Clube do Porto, Jorge Costa foi uma das figuras mais emblemáticas do futebol português dos anos 90 e início dos anos 2000.

Nascido em 14 de outubro de 1971, em Porto, Jorge Costa destacou-se desde cedo pelo espírito combativo e pela liderança natural. Formado nas camadas jovens do FC Porto, fez a sua estreia na equipa principal em 1989. Rapidamente ganhou o respeito de colegas e adversários, ficando conhecido como “O Bicho” pela sua entrega e agressividade dentro de campo.

Como capitão, conduziu o FC Porto a inúmeros títulos nacionais e internacionais, incluindo várias Ligas portuguesas e uma Taça UEFA em 2003. Representou a Seleção Nacional por 50 ocasiões, participando em Europeus e Mundiais, onde a sua postura intransigente na defesa deixou marca.

Após pendurar as botas, Jorge Costa abraçou a carreira de treinador, passando por vários clubes em Portugal e no estrangeiro, mantendo a mesma paixão pelo futebol.

É lembrado como um líder carismático, símbolo de dedicação e lealdade ao FC Porto e ao futebol português. Colegas, adeptos e toda a comunidade desportiva recordam-no não só como um atleta exemplar, mas também como um homem de caráter.

O funeral será realizado em cerimónia privada, reservada à família e amigos próximos.


Quer que eu faça uma versão mais curta (como se fosse para uma notícia rápida) ou uma versão mais emotiva e pessoal (com depoimentos e tom mais íntimo)?

Dito por si:

Sim

Dito pelo ChatGPT:

Aqui vai uma versão mais curta e emotiva:

 

Morre Jorge Costa, antigo capitão do FC Porto

Jorge Costa, histórico defesa-central e capitão do Futebol Clube do Porto, faleceu aos 54 anos. Figura emblemática do futebol português, “O Bicho”, como era conhecido, destacou-se pela entrega, liderança e lealdade ao emblema azul e branco, onde conquistou múltiplos títulos nacionais e internacionais, incluindo a Taça UEFA de 2003.

Internacional português por 50 vezes, Jorge Costa também se destacou como treinador, levando a sua paixão pelo jogo a diferentes clubes em Portugal e no estrangeiro.

A comunidade desportiva recorda-o como um líder nato, um homem de caráter e um símbolo do futebol nacional.


Quer que eu também faça uma versão jornalística com citações de colegas e dirigentes (fictícias), como se fosse um artigo completo de jornal?

Dito por si:

Sim

Dito pelo ChatGPT:

Aqui está a versão jornalística com citações fictícias:

 

Jorge Costa, eterno capitão do FC Porto, morre aos 54 anos

Jorge Costa, antigo defesa-central e capitão histórico do Futebol Clube do Porto, faleceu ontem aos 54 anos. Conhecido como “O Bicho” pela sua garra e espírito de liderança, foi um dos jogadores mais emblemáticos do futebol português das décadas de 1990 e 2000.

Natural do Porto, Jorge Costa representou o FC Porto durante grande parte da carreira, conquistando múltiplos campeonatos nacionais, Taças de Portugal e, em 2003, a Taça UEFA, sendo um dos símbolos da era dourada do clube. Também vestiu a camisola da Seleção Nacional por 50 ocasiões, participando no Euro 2000 e no Mundial 2002.

Após terminar a carreira de jogador, Jorge Costa tornou-se treinador, orientando clubes em Portugal, Roménia, Chipre, Índia e Tunísia, levando consigo a mesma paixão e determinação que demonstrava em campo.

A notícia da sua morte provocou grande consternação no mundo do futebol. Pinto da Costa, presidente do FC Porto, afirmou:

“O Jorge era muito mais do que um jogador, era um capitão, um líder dentro e fora do relvado. Deixa uma marca indelével na história do nosso clube e nos nossos corações.”

Deco, antigo companheiro de equipa, recordou:

“Era um guerreiro, um amigo e um exemplo. Aprendi muito com ele. Hoje, o futebol perde um homem gigante.”

A Federação Portuguesa de Futebol também emitiu nota de pesar, destacando o seu contributo para a Seleção Nacional.

O funeral será realizado em cerimónia privada, reservada à família e amigos próximos, enquanto milhares de adeptos preparam uma homenagem no Estádio do Dragão.

 

Quer que faça também uma versão ainda mais longa, estilo revista, com curiosidades da carreira e episódios marcantes (tipo “memórias de balneário e conquistas”) ou prefere que prepare um layout como se fosse uma página de jornal?

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Skin in the game


O que as pessoas “pensam” não é relevante.

As “explicações” das pessoas para o que fazem são apenas palavras, histórias que contam a si próprias, e isso não é assunto para decisões adequadas. O que elas fazem, por outro lado, é tangível e mensurável, e é nisso que nos devemos focar.

A revelação das preferências é melhor compreendida pelos noivos: um diamante, particularmente quando é oneroso para quem compra, é muito mais convincente de um compromisso (e muito menos reversível) que uma promessa verbal.

Nassim Nicholas Taleb im "Skin in the game"

domingo, 3 de agosto de 2025

Fotos


 Há fotografias que nos deixam a pensar na importância dos pais, dos professores e dos amigos que o Acaso nos pôs no caminho.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Desenhos de 22/07














Malditas cabeças!
 



 

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Cruzeiros e Pelourinhos


Os Cruzeiros de adro representam a sacralização do espaço em redor da igreja ou capela. Funcionam como “marco de fé” e são vistos como uma proteção espiritual contra males, calamidades ou tentações que pudessem atingir a comunidade.
A cruz lembra o sacrifício redentor de Jesus e convida os fiéis à oração e meditação, mesmo fora das horas de culto.
Servem como ponto de partida ou de chegada de procissões, peregrinações ou do acompanhamento de funerais.
Muitos apresentam inscrições ou datas que registam acontecimentos significativos.

Os Cruzeiros nos caminhos eram uma forma acessível de marcar a fé da comunidade, sobretudo nas zonas rurais sem recursos para erguer grandes monumentos.
O Minho, um dos principais corredores do Caminho Português de Santiago, utilizou estes cruzeiros como marcos de orientação e locais de oração para os peregrinos em viagem. Estrategicamente colocados em entroncamentos, saídas de aldeias ou locais perigosos, estão frequentemente associados a lendas locais: “Aqui morreu alguém e ergueu-se o cruzeiro.” “Aqui houve um milagre e colocou-se a cruz como sinal de agradecimento.” Algumas famílias ou confrarias ergueram-nos como ex-votos (promessas pagas por uma graça alcançada).

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Os Pelourinhos têm uma função totalmente diferente dos cruzeiros, embora ambos sejam marcos de pedra normalmente erguidos em locais centrais e de grande visibilidade.
Os pelourinhos eram símbolos do poder e da autonomia municipal, exibindo muitas vezes o emblema do poder concelhio.
A sua existência significava que a localidade possuía foral (direito outorgado pelo rei) e podia governar-se em certos aspetos (justiça local, mercado, impostos).
Serviam também como local de execução de penas públicas leves, como a exposição de criminosos à vergonha pública, açoites ou outras punições corporais — práticas com um objetivo dissuasor, mostrando a aplicação da lei de forma pública.
Assinalavam que aquela vila ou cidade tinha jurisdição própria, distinta de outras terras sob domínio senhorial ou régio, e eram ainda um símbolo de orgulho local. Muitas vilas faziam questão de ter um pelourinho monumental e trabalhado.

A época de maior difusão destes monumentos foi entre os séculos XV e XIX (embora alguns sejam mais antigos). Com a extinção dos forais e do poder senhorial (1834), deixaram de ter função judicial.
Muitos foram destruídos por estarem associados ao “Antigo Regime”.

Na região de Viana do Castelo ainda existem pelourinhos, hoje classificados como património histórico. O Pelourinho de Viana do Castelo e o de Caminha foram removidos e substituídos por chafarizes.
Quem quiser ver pelourinhos tem de ir a Ponte de Lima, Ponte da Barca, Vila Nova de Cerveira ou Valença.
Mas se quiser ver cruzeiros, basta dar alguns passos dentro de qualquer aldeia.


quarta-feira, 23 de julho de 2025

O Forte de Paçô

O Forte de Paçô, em Carreço, é uma pequena fortificação costeira construída no período da Restauração da Independência (a partir de 1640). A sua função era principalmente de vigia e defesa costeira, numa época em que a costa portuguesa era alvo de ataques de piratas e corsários, sobretudo vindos do Norte da Europa. Servia de apoio a outras fortificações maiores, como o Forte da Ínsua (Caminha) e as defesas do porto de Viana do Castelo. Também dava apoio aos pescadores locais, que utilizavam a enseada próxima.

Não há registo de que o Forte de Paçô tenha sido destruído em qualquer conflito militar significativo. Tal como muitos pequenos fortes, foi sendo desativado à medida que a pirataria diminuiu e a artilharia naval evoluiu. O seu estado atual (ruína parcial) deve-se essencialmente à falta de manutenção ao longo dos séculos e não à destruição direta por guerra.

O seu aspecto à época deveria ser assim.

Imagem criada

 

Um Pouco de História

Os fortes ao longo da costa portuguesa têm uma longa história, profundamente ligada à defesa do território, à proteção das populações costeiras e à salvaguarda da navegação. A sua construção acompanhou a evolução das ameaças marítimas, a importância estratégica de Portugal nas rotas comerciais e o desenvolvimento da artilharia.

Na Idade Média, algumas das primeiras fortificações costeiras surgiram junto a portos naturais, sob a forma de torres de vigia, que serviam para detetar ataques de piratas e corsários.

No século XVI, após a expansão marítima portuguesa e com o declínio do domínio muçulmano no Mediterrâneo Ocidental, aumentaram os ataques de piratas berberes, ingleses, franceses e holandeses. Foi neste contexto que se multiplicaram os fortes costeiros.

No século XVII, com a Restauração da Independência (1640), D. João IV lançou uma vasta campanha de fortificação costeira, modernizando estruturas existentes e construindo novas, especialmente com traçados adaptados à artilharia (baluartes, redutos e baterias).

No século XVIII, além da função militar, muitos fortes desempenhavam um papel logístico, abrigando guarnições permanentes e funcionando como apoio a faróis e alfândegas.

Nos séculos XIX e XX, com a evolução da artilharia e, mais tarde, da aviação, os fortes perderam importância militar, sendo alguns utilizados como quartéis, faróis, prisões ou mesmo habitações.

Atualmente, são testemunhos de uma época em que o mar era simultaneamente via de comércio e fonte de perigo.


Rede de Fortes entre Caminha e Viana do Castelo

A rede de fortes costeiros entre Caminha e Viana do Castelo foi construída sobretudo no século XVII, durante o reinado de D. João IV, após a Restauração da Independência. O objetivo era proteger a costa de piratas e corsários, criando uma linha de defesa contínua, complementada por torres de vigia.

Principais fortes:

  1. Forte da Ínsua (Caminha) – Construído numa pequena ilha rochosa na foz do Rio Minho, tinha como função a defesa do estuário e a proteção da navegação.
  2. Forte do Lagarteiro (Vila Praia de Âncora) – Protegia a enseada e as embarcações dos pescadores locais.
  3. Forte do Cão (Gelfa) – Complementava a defesa do litoral junto à Ínsua.
  4. Forte de Paçô (Carreço) – Estrutura simples, adaptada a artilharia leve, com função de vigia.
  5. Forte de Montedor (Carreço) – Protegia um dos pontos de desembarque mais vulneráveis da região.
  6. Forte de Areosa (Areosa) – Controlava a faixa costeira antes da entrada no porto de Viana do Castelo.
  7. Forte de Santiago da Barra (Viana do Castelo) – Principal estrutura defensiva da região; protegia a entrada do porto e foi utilizado até ao século XIX como ponto estratégico militar.

A distância entre os fortes era relativamente curta, garantindo que cada um tinha visão direta do anterior, permitindo a troca de sinais (fogueiras, bandeiras ou tiros de canhão). Os pequenos fortes (Paçô, Montedor e Cão) funcionavam como postos avançados, enquanto os fortes maiores (Ínsua e Santiago da Barra) serviam de bases principais.

O Forte de Montedor já não existe. Situava-se perto do atual Farol e tinha características semelhantes às do Forte de Paçô e do Forte do Cão. A construção do farol, em 1910, levou à reorganização do espaço e à utilização de parte do terreno onde estaria a antiga estrutura. Os restos do forte terão sido reaproveitados ou desapareceram devido à ação do tempo e ao abandono.

terça-feira, 22 de julho de 2025

São Sebastião


Capela de São Sebastião, Paçô, Carreço

A devoção a São Sebastião tem raízes fundas na religiosidade popular portuguesa. Mártir cristão da Roma antiga, São Sebastião é venerado como protetor contra a peste, as epidemias e outras calamidades coletivas — uma crença que atravessou séculos e deixou marcas visíveis na paisagem religiosa do país.

Durante os séculos XVIII e XIX, sobretudo em tempos de surtos de doenças como a peste, cólera ou febres malignas, comunidades rurais e urbanas de todo o território ergueram capelas em honra de São Sebastião. Muitas dessas construções mantêm ainda hoje a sua traça simples, com fachadas de granito e frontões recortados, erguidas por promessa ou como voto de agradecimento por proteção divina.

Estas capelas, normalmente implantadas em lugares altos ou à entrada das povoações, funcionavam como barreiras espirituais contra os males do corpo e da alma. O santo, representado com o corpo crivado de flechas, tornou-se símbolo de resistência e esperança, sendo invocado em momentos de aflição.

A devoção a São Sebastião é também celebrada com romarias e festas populares, especialmente no mês de janeiro, próximo da sua festividade (20 de janeiro). Em muitas aldeias do norte de Portugal, estas festas incluem procissões, missas campais, bênção de animais e até partilhas de pão ou vinho, ecoando antigas práticas de culto agrário cristianizadas ao longo do tempo.

A força desta devoção estende-se do litoral ao interior, das ilhas à diáspora portuguesa espalhada pelo mundo. Cada capela dedicada ao santo guarda não só a memória de uma promessa, mas também o testemunho da fé coletiva de uma comunidade diante da fragilidade humana.

O milagre de São Sebastião e a capela de Carreço

Em maio de 1819, uma pequena embarcação de pesca com sete homens de Carreço partiu para o mar, a partir do sítio da Posta. Chamava-se S. Sebastião e era comandada por Manuel Fernandes Enes. A pesca da sardinha obrigou-os a afastar-se muito da costa, mas foram surpreendidos por ventos fortes de leste que os empurraram para alto-mar, impedindo o regresso.

Durante dias, remaram contra o vento, esgotados, alimentando-se apenas de sardinhas cruas e água salgada. Em terra, a angústia era geral. Quando finalmente foram avistados ao largo, tentaram entrar em terra por Caminha, mas o mar continuava bravo. A tripulação, desesperada, quis fugir para Espanha, mas o mestre impôs-se com firmeza e ordenou a entrada pela barra. Milagrosamente, o mar acalmou por instantes e o barco entrou em segurança.

Em agradecimento, a população de Carreço mandou construir uma capela dedicada a São Sebastião, concluída em 1821, como voto pela salvação. A pequena imagem do santo, que se guardava na antiga Capela do Santo da Légua, foi transferida para o novo templo. Desde então, a memória desse episódio foi preservada na devoção local, nas festas anuais e nas orações dos pescadores antes de se fazerem ao mar.

Nota: A Capela do Santo da Légua ficava perto da atual Avenida do Santo da Légua, na N13, e foi demolida no início do século XVIII, durante obras na estrada.

 Hagiografia:  Segundo a tradição cristã, nasceu em Milão, por volta do ano 256 d.C. e foi martirizado em Roma, cerca do ano 288 d.C., durante o reinado do imperador Diocleciano.

Era um oficial da guarda pessoal do imperador, que usava a sua posição no exército para ajudar e confortar os cristãos perseguidos. Descoberto, foi acusado de traição e condenado à morte por flechas, após o que o atiraram ao rio Tibre, onde foi recolhido por santa Irene que o curou. Os militares eram o esteio do império, onde a lealdade era vital. Sebastião, em vez de fugir, voltou a confrontar o imperador acusando-o de injustiça e foi então martirizado de novo, a pauladas, até à morte.

É padroeiro da cidade do Rio de Janeiro e do lugar de Paçô em Carreço.

Na arte renascentista e barroca, a sensualidade do corpo martirizado transformou São Sebastião num símbolo ambíguo, inclusive adotado como ícone cultural por grupos LGBT no século XX, como mártir simbólico do sofrimento humano e da exclusão (religiosa, sexual, política).


segunda-feira, 21 de julho de 2025

Senhor do Bonfim

 

A Capela do Senhor do Bonfim, Troviscoso - Carreço, Viana do Castelo, é uma construção de estilo barroco rural, datada do século XVIII.

Foi construída por volta de 1741, por João Pires Lavrador e provavelmente custeada por famílias de agricultores e pescadores como votos de gratidão e para reforçar o sentimento comunitário. Em frente à capela, ergue-se um cruzeiro barroco, erguido na segunda metade do século XVIII. A comunidade celebra anualmente uma romaria em honra do Senhor do Bonfim, no primeiro domingo de setembro.

A devoção ao Senhor do Bonfim é uma das expressões mais marcantes da religiosidade popular em Portugal e no Brasil, associada a pedidos de proteção, saúde, e libertação em momentos de sofrimento.

O “Senhor do Bonfim” representa Jesus Crucificado, invocado no momento extremo da dor — o sofrimento redentor da cruz. O nome “Bonfim” refere-se ao desejo de uma boa morte e, por extensão, de um final feliz para situações difíceis, como doenças, perigos ou provações. Assim, a devoção invoca misericórdia e intervenção divina nas horas de angústia.

Em contextos agrícolas e marítimos, como Carreço, onde as populações viviam expostas a riscos naturais (tempestades, pragas, fome) e a ausência de cuidados médicos, a fé era muitas vezes o único recurso. O Senhor do Bonfim era visto como protetor de quem sofria ou estava em perigo de vida.

Em Portugal, muitas comunidades ergueram capelas e cruzeiros em honra ao Senhor do Bonfim, geralmente nos limites das povoações ou em caminhos de entrada e saída, como proteção espiritual para os viajantes.

domingo, 20 de julho de 2025

Capela de Santo António em Afife

 


 A Capela de Santo António em Afife situa-se no Monte de Santo António, um promontório com cerca de 70 metros de altitude, oferecendo uma vista privilegiada sobre o mar, o rio e a veiga local. A sua posição estratégica era já utilizada desde a proto-história — no monte existiu um povoado fortificado (castro), habitado desde a Idade do Bronze e do Ferro.

A capela foi erguida no século XVII (sendo frequentemente citado o ano de 1685), como enclave religioso dedicado a Santo António. Para além do culto, o local funciona como miradouro natural e destino de lazer, contando com um parque de merendas muito procurado por visitantes e ciclistas.

Santo António era visto como protetor das aldeias e dos pobres, intercessor em casos urgentes (como doenças, infertilidade e casamentos), e santo das causas perdidas — objetos, caminhos e situações difíceis. Também é padroeiro dos viajantes, dos navegantes e até dos animais domésticos. Considerado um milagreiro próximo das necessidades do povo simples, tornava-se particularmente relevante em comunidades agrícolas como Afife, onde se valorizava um santo que “resolvesse”.

A Ordem Franciscana, à qual Santo António pertenceu, teve grande presença no Norte de Portugal, sendo plausível que frades da região tenham influenciado ou mesmo patrocinado a edificação da capela. Era prática comum dos franciscanos a construção de capelas dedicadas a Santo António no cume de montes, por todo o país, associando-se essa localização à ideia de vigia espiritual e de proteção sobre as terras em redor, acreditando-se que, desses pontos elevados, o santo abençoava os campos e os seus habitantes.

Embora a festa litúrgica de Santo António se celebre oficialmente a 13 de junho, em Afife a romaria em sua Honra é relegada para o fim de semana mais próximo do dia 24 de julho, dia de Santa Cristina, padroeira da aldeia.

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Santa Cristina é exemplo de firmeza na fé. Uma "menina mártir" que se insere no contexto de outros santos infantis, como Santa Inês ou Santa Filomena. A escolha de Santa Cristina como padroeira de Afife remonta ao século XIII, com a igreja primitiva já dedicada a ela.

O martírio de Santa Cristina de Bolsena (Bolsena fica 130km a norte de Roma). Cristina era filha de Urbanus, um alto funcionário romano e governador da cidade. O pai educou-a segundo a fé pagã, mas uma criada cristã falou-lhe de Jesus e, inspirada pela fé, recusou-se a adorar os ídolos. Ao saber disto, o pai, mandou açoitá-la cruelmente. Cristina não cedeu. Então, começou uma longa série de torturas sucessivas, descritas com grande dramatismo nos textos antigos. “Garfos de ferro rasgaram-lhe a carne, mas anjos curavam-na durante a noite. Foi lançada numa fornalha ardente durante cinco dias — mas saiu ilesa, rodeada de luz. Prenderam-lhe uma pedra ao pescoço e lançaram-na a um lago — mas um anjo salvou-a e ela caminhou sobre as águas. Foi colocada num poço cheio de serpentes venenosas, que se acalmaram ao seu toque. Mandaram-lhe cortar a língua, mas continuou a falar e pregar milagrosamente. Finalmente, foi transpassada por flechas, morrendo por fim — com cerca de 12 anos.

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