segunda-feira, 6 de julho de 2009

Kami







Entraste de rompante e agora debates-te com o problema. É que isto de ser jovem e ter direitos, não é tão natural como tu pensas.
Aqui todos temos o espaço que fomos construindo ao longo dos anos, e as tuas nove semanas não te permitem entender o que é o direito ao sossego.
Não chegaste para ser dona disto, nem tens a mãezinha a controlar os teus desmandos exploratórios. Aqui há regras! Tens que fazer a Integração, aprender o que está nos Manuais e assistir às Reuniões para te aperceberes como isto funciona.
Primeiro há que respeitar os outros e não vir a correr feita louca enfiar os dentes em tudo o que mexe. Segundo, o Troll chateia-se com o teu excesso de juventude, e nem as tuas manhas femininas às primeiras ladradelas o comovem.
Queres um conselho? Vai de mansinho e lambe-lhe o focinho ou enrosca-te nele quando o topares deitado. Aprende-lhe o ritmo antes de lhe impores o teu, até porque vais ter de te esmerar para conquistar o gato que tem um feitio do pior que há por aí.

Ficas Kami, porque apareceste como um terramoto a desestabilizar a paz deste espaço.

Kami (mitologia japonesa): “sob a Terra – de planícies juncosas – jazia um Karm (um ser sobrenatural) que tinha a forma de um barbo e que, ao mover-se, fazia estremecer a terra, até que o Magno Deus da ilha de Cervos enfiou a lâmina da sua espada na terra e lhe atravessou a cabeça. Quando o Kami se agita, o Magno Deus agarra o punho e o Karm volta à quietude”

in “O Livro dos Seres Imaginários” de Jorge Luís Borges.

1 comentário:

capitão disse...

Nai-no-kami é o deus dos terramotos, o peixe dos terramotos é o Namazu e o deus da trovoada é o Kami-nari.