- “Ele até pode ser aquilo que você está para aí a dizer, mas não há mãos como as dele!”
- "E depois? Se a cabeça julga mal, para que lhe servem as mãos?”
Era uma conversa de surdos.
Sempre entendi que a mão obedece à cabeça e que o resultado final é um projecto desta e não um acaso daquela, mas ele insistia em se deslumbrar com a sua filigrana. Todos lembrávamos as vezes em que aquelas mãos foram decisivas, mas enquanto uns, só por isso, lhe desculpavam as loucuras, outros pesavam tudo e concluíam de modo diferente.
Para mim era um atrevido, que se aproveitava das fraquezas dos outros mas, no seu grupo, onde a irreverência fazia escola, havia quem o tolerasse, já que não se vislumbravam consequências dos seus desmandos.
- "Mas eu estou-me a entender?!" Gritava, quando sentia qualquer ameaça à sua posição, antes de se ausentar para paradeiro incerto. É que ele não estava ali para atender quem chegava. Estava ali para resolver o que mais ninguém resolvia, sem mais recursos de que a sua habilidade. Depois, assim como aparecia, desaparecia, qual Justiceiro Solitário, fumando sereno a sua cigarrilha para pasmo dos mortais.
Era ele o chefe e, como minorava as consequências, não antevia dificuldades. Também os grandes intervalos com que se presenteava lhe facilitavam a ousadia, facto que facilitava os “presentes envenenados”, com que era agraciado.
Falava-se que uma doença psiquiátrica o protegia, e antevia-se breve o fim daquela carreira. Por fim este chegou, atabalhoado, inconsistente, com negações das evidências, mas a ser suficiente para ... "uma reforma antecipada"!
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