domingo, 14 de março de 2010

Uma gravidez


















- “Isabel! A Sra. não sabe que o seu companheiro está infectado pelo vírus da SIDA?”
- “Sei, Sra. Dra.! Disse-me ontem a médica. Mas, felizmente, o bébé parece que não tem nada, e eu também não!”
Era então uma bonita jovem de 19 anos.
Na consulta seguinte do companheiro, questionei-o:
- “Então você tem a mulher grávida e não lhe falou da sua doença?”
- “Eu não disse porque esse filho não é meu! Quando comecei a namorar com ela, ela já estava grávida!”, respondeu, justificando o injustificável, e falseando a verdade pois os anos iriam chapar na cara do garoto a sua marca.

Ela tinha testes negativos nessa altura e meses depois, e ele com doença multi-resistente foi encaminhado para tratamento num centro mais diferenciado. Perdi-lhes o rasto.

Voltava agora, sete anos depois, por ter sido despistada positividade numa consulta de dadores de sangue. Tinha aspecto cuidado e, embora mais magra, aparentava a saúde própria da idade.
- “Isabel! Então você está seropositiva? Como é que arranjou isso? Vocês deviam ter cuidado. A Sra. teve muita sorte de início, como é que se foi deixar infectar pelo seu marido?, pergunto.
- “Meu ex-marido, Sra. Dra.! Ele tratava-me muito mal! Batia-me e não queria saber de mim! Olhe que até estive internada em Psiquiatria! Agora tenho outro, que é meu amigo e quer muito ter um filho meu! Será que posso engravidar? Não sou bem eu que quero, que já tenho dois. Ele é que quer, que não tem nenhum!”
- “Oh Isabel! Há quanto tempo é que anda com este?”, pergunto a ganhar tempo para compreender.
- “Há 1 mês, Sra. Dra! ... Mas ele quer muito!”
História de A.S.

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