- Então Sr. Felgueiras, você não disse à sua médica, que tinha tido uma hepatite, e agora fala-me que teve a doença em 1986.
- Sabe Sr. Dr., eu não tive propriamente uma hepatite. O caso foi que, quando eu fui evacuado das Honduras para Madrid, por causa de um tiro que levei, fiquei no Hospital mais de um mês e, nessa altura, falaram-me que nas análises acusava uma hepatite.
- E o que é que você andava a fazer nas Honduras para levar um tiro?
- Oh Sr. Dr.! Isso são pecados velhos. Andava na guerrilha anti-sandinista, a soldo da York Company de Santa Mónica. A mesma que está agora no Iraque. Estavamos nas Honduras e fazíamos incursões na Nicarágua, em grupos de 8 a 10. Portugueses éramos quatro. Oh! Nessa altura estava na força da vida. Trinta e poucos anos. Ganhava mais de 4000 dólares por mês. Claro que se fosse preso, o melhor que fazia era matar-me, que ninguém me ia salvar. Estive lá de 83 a 86. Muitos ficaram por lá. Outros desapareceram, como foi o caso de um americano que fugiu com parte do meu dinheiro para a Noruega. Olhe!, quando eu saí do Hospital de Madrid fui lá procurá-lo, mas quando dei com a mulher dele, que era enfermeira, ainda tive problemas com a polícia. É que já lá tinham estado três antes de mim, que o tinham abafado.
- Então você viveu a maior parte da sua vida fora de Portugal!
- Sim! Eu nasci numa cidade do interior, e aos 17 anos (em 1964), ouvia aquelas histórias de gente que morria ou que vinha amputada da guerra nas colónias, e disse para comigo que o melhor era ir para a Força Aérea. Primeiro não andava na guerra a pé e depois a farda era muito mais bonita. Era mecânico de armamento, e fui para Angola. Em 1973 estava na Guiné. Mas já andei muito por esse mundo fora. Em 1996 pertenci à KFOR no Kosovo ...
- Mas você tinha casa em Portugal?
- Não, depois de me ter divorciado. Mas estive casado 13 anos. Depois, quando vinha cá, ficava em caso dos filhos. Olhe, a minha filha que está lá fora, não a vi entre os 10 e os 21 anos. Agora tenho uma casa, mas passo pouco tempo nela. Os últimos anos fui camionista TIR, a fazer transportes entre Portugal e o Norte da Europa, e foi há um mês, numa dessas viagens, para ensinar um camionista novo, que, ao saltar da cabina para o chão, me deu esta dor na coluna.
- Só mais uma coisa. Você quando andou nessa vida de guerra tomava medicação para profilaxia das doenças tropicais ou outros medicamentos?
- Não Sr. Dr.! Nós bebíamos whisky, gin e fumávamos marijuana. Nunca consumi droga! Só quando estava na KFOR é que nos punham três comprimidos à frente do prato que diziam Laboratório Militar, que a gente bebia com cerveja. Se calhar foi isso que me fez mal ao fígado.
- Sabe Sr. Dr., eu não tive propriamente uma hepatite. O caso foi que, quando eu fui evacuado das Honduras para Madrid, por causa de um tiro que levei, fiquei no Hospital mais de um mês e, nessa altura, falaram-me que nas análises acusava uma hepatite.
- E o que é que você andava a fazer nas Honduras para levar um tiro?
- Oh Sr. Dr.! Isso são pecados velhos. Andava na guerrilha anti-sandinista, a soldo da York Company de Santa Mónica. A mesma que está agora no Iraque. Estavamos nas Honduras e fazíamos incursões na Nicarágua, em grupos de 8 a 10. Portugueses éramos quatro. Oh! Nessa altura estava na força da vida. Trinta e poucos anos. Ganhava mais de 4000 dólares por mês. Claro que se fosse preso, o melhor que fazia era matar-me, que ninguém me ia salvar. Estive lá de 83 a 86. Muitos ficaram por lá. Outros desapareceram, como foi o caso de um americano que fugiu com parte do meu dinheiro para a Noruega. Olhe!, quando eu saí do Hospital de Madrid fui lá procurá-lo, mas quando dei com a mulher dele, que era enfermeira, ainda tive problemas com a polícia. É que já lá tinham estado três antes de mim, que o tinham abafado.
- Então você viveu a maior parte da sua vida fora de Portugal!
- Sim! Eu nasci numa cidade do interior, e aos 17 anos (em 1964), ouvia aquelas histórias de gente que morria ou que vinha amputada da guerra nas colónias, e disse para comigo que o melhor era ir para a Força Aérea. Primeiro não andava na guerra a pé e depois a farda era muito mais bonita. Era mecânico de armamento, e fui para Angola. Em 1973 estava na Guiné. Mas já andei muito por esse mundo fora. Em 1996 pertenci à KFOR no Kosovo ...
- Mas você tinha casa em Portugal?
- Não, depois de me ter divorciado. Mas estive casado 13 anos. Depois, quando vinha cá, ficava em caso dos filhos. Olhe, a minha filha que está lá fora, não a vi entre os 10 e os 21 anos. Agora tenho uma casa, mas passo pouco tempo nela. Os últimos anos fui camionista TIR, a fazer transportes entre Portugal e o Norte da Europa, e foi há um mês, numa dessas viagens, para ensinar um camionista novo, que, ao saltar da cabina para o chão, me deu esta dor na coluna.
- Só mais uma coisa. Você quando andou nessa vida de guerra tomava medicação para profilaxia das doenças tropicais ou outros medicamentos?
- Não Sr. Dr.! Nós bebíamos whisky, gin e fumávamos marijuana. Nunca consumi droga! Só quando estava na KFOR é que nos punham três comprimidos à frente do prato que diziam Laboratório Militar, que a gente bebia com cerveja. Se calhar foi isso que me fez mal ao fígado.
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