quinta-feira, 15 de julho de 2010

Esvaziam-se os campos.


- Então Dona Aurora. Foi de repente que essa barriga cresceu?
- Foi em 8 dias. Ainda a semana passada fiz a vida normal, embora já me doesse. Mas eu tinha que andar, que o meu marido, desde que foi operado aos intestinos, deixou de me ajudar. Ultimamente sou eu que faço tudo. Não é que eu não tenha família, mas só me querem comer os olhos. Casei com 25 anos e não tive filhos. Vivemos da reforma numa casa antiga, num sítio muito bonito, e o meu sobrinho queria que eu a vendesse a uns espanhois que levou lá. Mas eu não fui nisso. Ele viveu toda a vida em França e sempre foi um estroina. Apanhava-se com o dinheiro e punha-me na rua.
Olhe que eu ia todos os 8 dias vender à feira, que eu tenho um eido muito grande. Cheguei a colher 2 pipas de vinho.
-Que idade é que a Sra. tem?
-Não sei. Tenho que ir buscar o Bilhete de Identidade. Não sei ler nem escrever, mas não há ninguém que me engane. O meu marido até diz que eu tenho um génio lixado. ... Isto que eu tenho na barriga, é ... grave?
-Sim Dona Aurora. Vai ser difícil você voltar a trabalhar!

......

- Que idade é que o Sr. tem, Sr. Afonso?
- 56, Sr. Dr. !
- E trabalha em quê?
- Trabalho nas obras. Quando precisam de mim, chamam-me, sabem que eu faço de tudo. O resto do tempo trabalho para mim. Às vezes passo semanas em casa a tratar das ovelhitas e de uns campos arrendados, mas a maior parte deles já os entreguei, que aquilo não paga o trabalho. Agora as batatas, o feijão e o milho são para a casa.
Também sou só eu e a minha mulher, que anda doente. Ainda temos um filho connosco, mas com 22 anos, qualquer dia vai à vida. Fiz a casa com esmolas, num terreno que a minha avó me deu. Faço um trabalhito aqui e ali e, com um bocadinho de terra, faço a vida!
Sr. Dr.! É grave?
- Não! É só uma pneumonia. Daqui a uns dias, vai poder voltar às ovelhas!

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