domingo, 25 de outubro de 2009

Caim



Não é mais que um dos muitos sinais, que o livro “A Bíblia”, já não cumpre muitos dos objectivos de coesão da sociedade ocidental.

No livro “Evolução para todos”, David Sloan Wilson define o porquê das religiões e o modo como elas são fruto de uma evolução e adaptação ao ambiente e, como qualquer ser vivo, correm o risco de se extinguirem, caso passem a “dançar com fantasmas”.

Muitos dos textos bíblicos estão nesta circunstância, pese embora a acção dos exegetas lhes deformarem o sentido, para assim tirarem ilações que os possam suster à luz da actual realidade, ao ponto de se desaconselhar ler a Bíblia sem anotações de roda pé e até se aconselhar a sua leitura unicamente nas igrejas, para que um padre lhe possa dar a "interpretação correcta".

Quando li o livro “O Jogo do Anjo”, fez-se-me luz no espírito, ao concluir que o livro que é encomendado ao seu principal personagem, não é mais que uma Bíblia, pois um conjunto de pequenas histórias paradigmáticas é um meio muito mais eficaz de divulgar conceitos que uma simples lista de normas de actuação.

A Bíblia, ao ser considerada obra final, sem necessidade de novas histórias que respondam aos problemas da actual sociedade, torna-se ineficiente e leva ao descrédito das religiões que nela se apoiam.

Já o disse e repito-o: a próxima Religião ocidental vai ter como fundamento o darwinismo, mas a sua afirmação irá demorar a ser integrada na sociedade pois, embora tenha havido cuidado na divulgação dos seus conceitos, não lhe foi dada a componente vertical (transcendental) necessária para a veneração e cumprimento inquestionável.

6 comentários:

Anónimo disse...

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H disse...

E quem é que encomenda o livro no jogo do anjo, na sua opinião?

capitão disse...

@H
Na altura em que li o livro, identifiquei o personagem com o Diabo, por se apresentar como antítese ao existente e não como uma qualquer alternativa que integrasse e acrescentasse.

Anónimo disse...

Que a religião ainda é um factor de coesão social está patente na própria configuração da união europeia – judaico-cristã – e nos laços culturais que nos unem pela partilha de pontos de vista comuns e que facilitam a relação entre os povos e as pessoas. A ciência tem desenvolvido o seu papel a partir deste substrato sócio-cultural e os seus desenvolvimentos, quer se queira ou não, necessitam de ser integrados sem provocar grandes rupturas nesse tecido. O saber obtido pelo conhecimento científico permite agir sobre o mundo, de forma construtiva ou destrutiva, mas não é em si mesmo portador de valores morais. Assim sendo as suas implicações deverão ser ajuizadas pelo sistema ético e moral em que estão inseridas.


Quanto ao darwinismo poder tornar-se na próxima religião não me parece provável dado que a natureza básica do conhecimento religioso é essencialmente sintético e o cientifico analítico. Além disso a componente vertical é a que verdadeiramente define o caminho religioso e é a sua essência. A sua presença nas principais religiões do mundo (cristianismo, judaísmo, islamismo, budismo, hinduísmo) revela que o homem independentemente do espaço cultural, sociedade, raça e período de tempo tem chegado aos mesmos níveis de entendimento (e não é por acaso) e que as diferenças se situam mais nas expressões exotéricas da religião.

PM

capitão disse...

Caro PM:
Longe de mim pensar que a religião não tem papel importante na coesão social.
Só questionei a Bíblia com o lastro que os exegetas lhe têm dado, e a sua “utilidade prática” - a tal componente horizontal, que motiva um “estar útil”, onde a integridade e honestidade, a lealdade e a generosidade sejam os vínculos para toda a comunidade, e constituam, de facto, as armas para resistir e viver melhor.
Ora é o entendimento dessa “utilidade” que se tem vindo a perder na “sociedade tecnológica e da informação”, porque aqueles textos da mitologia judaico-cristã estão a perder a força.

Eu gosto do aspecto “útil” de algumas histórias da mitologia grega. Aquela possibilidade dos deuses se dividirem entre o Olimpo e a Terra e se cruzarem com os humanos, medindo-lhes a reacções, é particularmente interessante, uma vez que os limitava a tratar mal um desprotegido, pois poderiam estar em presença de um deus disfarçado, capaz de todo o mal. Mas, o certo é que deixou de funcionar.
O tempo mudou e aquela mitologia, foi substituída.

Agora o mundo é uma aldeia, e é urgente que surjam valores religiosos que se sobreponham aos valores tradicionais, que nos defendam aqui do mal que se faz nos antípodas.

Anónimo disse...

É o olhar que muda, não os olhos. Há "verdades" que são universais que não necessitam de ser alteradas pois assim é. Alterá-las significa retirar-lhes o significado porque, na realidade, nunca chegamos a compreendê-las. A interpretação destas é que cria desvios – e concomitantes problemas – pois são reduzidas a versões limitadas pelos nossos próprios limites. O facto de serem verdades perenes que ultrapassam o tempo, a cultura e a sociedade dá-lhes uma dimensão que não é sujeita a modas, ou caprichos, mas que está ali para ser conquistada, não apenas pela razão, mas pela integração e expressão na acção. É um modo de ser.

PM


PM