Naquele dia, a festa de anos de casado acabou com uma clavícula fracturada na queda de uma cama, usada como palanque para o discurso. - "Oh pai! Acabe lá com isso e venha deitar-se!” dizia-lhe o Jaime, momentos antes, tentando interromper os velhos cantochões ingleses, que só iriam parar no Serviço de Urgência, no meio de alguns ais. Já aí, em vão, tentava afastar as atenções daquela desinibição alcoólica, que a espera prolongava, quando para cúmulo, lhe surge uma cólica inoportuna que torna inadiável uma visita ao Water Closet. - "Fica aqui a tomar conta do meu pai, que eu tenho de ir JÁ!”, diz-me, enquanto se levanta e se dirige à porta que se abre no corredor. Sigo-o na aflição. Entra de rompante, retirando a vez a um outro, e dois segundos depois sai, arranca o cartaz em frente “Salve uma vida - doe Sangue” e leva-o amarfanhado para o interior. Aguardo vários minutos, até o ver de novo, risonho, na minha direcção. - “Então? Tudo bem?”, pergunto, a imaginar-lhe as dificuldades passadas. - “Mais ou menos, dada a qualidade do papel. Mas em casa arranja-se melhor! E o meu pai?”. - “Está pronto! Vai já sair!”
Dir-me-ão: mas então na altura da violência , o que fazer? Pois bem, nada mudar, aconteça o que acontecer, nas posições de princípio. É necessário batermo-nos pela trégua, pela passagem do massacre dos inocentes, pelo estabelecimento das condições ao mesmo tempo morais e políticas que um dia permitirão o diálogo. E, se não tivermos maior autoridade nem sobre uns, nem sobre os outros, ora bem, talvez que durante um momento seja preciso calarmo-nos."
... … Mas não se afirma hoje que Deus é o único recurso dos seres privados de futuro? ... Uma vez que Deus está morto, tudo é permitido (Nietchze). … Se a violência é legítima porque o fim é legítimo, então o único meio de atingir um fim justo é pela prática de uma violência de repente justificada. (Nietchze) ... A partir do momento em que se introduz a religião na política, a violência torna-se sagrada. ... Mesmo que provem que Cristo não é a verdade, escolherei Cristo contra a verdade” (Dostoievski) ... No século XX já não nos podemos apoiar nos modelos do passado, nem refugiar-nos nos projectos de futuro. Somos obrigados a uma lucidez constante e quase inumana sobre um destino que se joga a cada segundo. ... Enquanto não se subtrair o absoluto à política, estamos condenados a considerar a sociedade ou o outro como um inimigo. ... O que obceca Camus é ver como os humilhados e ofendidos se vão revoltar e como a sua revolta vai ser traída na revolução. … Sobre o jornalismo: ... Tem três servidões: ter de levar em conta a opinião de demasiadas pessoas ao mesmo tempo e, portanto, dizer sempre menos do que deveria ser dito; ter de escrever rapidamente e, portanto, não “rever o pensamento”, e sobretudo, por fim, não poder evitar fazer inimigos. ... Reconhecia-lhe o mérito de contribuir para a decomposição da sociedade burguesa, dominada pelos “patifes” de boa consciência e má fé. ... Dava-lhes de conselho: “não hesitem em falar bastante de sangue e de sexo, é o que agrada ao burguês e culpabiliza o seu prazer” ... Dizia que "Longe de reflectir o estado de espírito do público, a maioria da imprensa francesa reflecte apenas o estado de espírito daqueles que a produzem” ... Derivas que condenava no jornalismo: a subserviência ao poder do dinheiro; a obsessão de agradar a qualquer preço; a mutilação da verdade sob um pretexto comercial ou ideológico; a lisonja dos piores instintos; o “furo” sensacionalista; a vulgaridade tipográfica – numa palavra o desprezo por aqueles a quem se dirige.
... “Ele não era capaz de encontrar as palavras necessárias. E, enquanto procurava essas palavras, mataram-no.”
... Com o tempo, descobrimos, por nossa vez, que a vida não tem sentido e que não é o começo deste século que nos poderá levar a pensar de outro modo. Mas sabemos também, e com a mesma intensidade, que certos homens conseguem dar um sentido à sua vida, nalgumas circunstâncias privilegiadas. Quando amam e quando criam. Quando conseguem num vislumbre discernir algo que se parece com o Bem, o Verdadeiro e o Belo. Quando são suficientemente felizes para terem o desejo de proteger os instantes de feliciadade dos outros.
Respinguei estas frases deste livro que tenta revelar o pensamento de - Albert Camus, quer através do contacto pessoal do autor (Jean Daniel), quer através da sua obra.
-“Sr. Alfredo! Você foi operado a alguma coisa? O que foi essa cicatriz aí no antebraço esquerdo?”, pergunto aos 111Kg de homem que estão na minha frente, na tentativa de esclarecer aquela anemia, que resiste aos exames auxiliares de diagnóstico. - São coisas da guerra Sr. Dr.! Coisas do tempo em que a gente não sabe o que faz. Sabe, eu agora até penso que o cozinheiro nos punha droga na comida, para a gente correr atrás das balas. Estávamos todos loucos!” E sem pensar o porquê da hesitação, insisti na curiosidade: –“Foi uma bala perdida?” -“ Não. Dr.! Foi uma catanada que me fez perder a cabeça!”, e a custo, como a medir a minha capacidade, desbobina a história, com a franqueza de quem ultrapassou os remorsos para poder viver consigo próprio. –“Eu era fuzileiro em Angola. Tínhamos o acampamento junto à fronteira com o Zaire, paredes-meias com o dos pára-quedistas, com quem fazíamos frequentes operações “parafuso” – eles por cima e nós por baixo, varríamos tudo o que mexesse. Era assim a guerra! … Nesse dia, eu vinha de uma operação no mato. Encontrei um cabo à entrada do acampamento, disse-lhe que estava cheio de fome, e ele apontou-me para a cozinha para eu ir lá comer qualquer coisa. Vai daí, entrei naquele corredor onde estavam as panelas, e dei com umas postas de bacalhau num panelão a demolhar. Deitei a mão a uma, e o cozinheiro preto que lá estava, virou-se para mim com maus modos, a dizer para eu a pousar, que as postas estavam contadas! ... Está a ver, Dr.! ... Eu tinha autorização, ... e o gajo armado em fino, a dizer que eu não podia! Virei-lhe as costas e, enquanto a estava a espremer para lhe tirar a água, o preto vem de lá detrás com a catana e zás, no braço! … Oh, Dr.! ... Eu trazia a G3 a tiracolo, ainda carregada, com a coronha para cima. Foi só virá-la para ele, à altura da cintura, e disparar. Dei-lhe sete tiros! Caiu logo ali!” -“E você não foi punido?”, pergunto, a pensar no preço de uma posta de bacalhau. -“Não Dr.! O capitão quando soube, veio ter comigo para me descansar! ... Então o gajo veio à catanada!? ... Fizeste bem!” - “Bem! Sr. Alfredo! Deixemos isso. Você vai ter que fazer mais exames ainda esta semana”.
“Ou há moralidade ou comem todos” era uma das máximas da minha juventude, que prevalecia quando o trabalho era conjunto e daí resultava benefício. Tal não significava distribuição equitativa. Os mais importantes tiravam partes maiores, mas todos os envolvidos eram beneficiados. Então, os gestores éramos todos nós. Agora, na vida prática, vem esta imoralidade de só haver prémios para os Gestores, como se todos os outros fossem só peças de uma máquina.
Em poucas décadas este grupo profissional desalojou os outros das direcções, dando-lhes lugares subalternos, e foram criando regras onde são beneficiários, com a agravante de, por se saberem fora de qualquer controle eficiente, (muitos) falsearam resultados e, ao mesmo tempo que se auto-premeavam, propunham aumento zero para os trabalhadores, em nome de uma gestão responsável.
Pairam por cima das pessoas que deviam defender, impondo-lhes os “seus” valores económicos, rodeados de um séquito de yes-men que lhes dá um quê de religiosidade dogmática, que inibe quem anda distraído com o seu trabalho.
Para melhor me fazer entender: o Director de um Hospital deve ser um médico da carreira hospitalar com provas dadas como profissional e como director de um Serviço de uma área clínica. O Director de uma Escola, um Professor, com currículo semelhante, o de uma Empresa de Telecomunicações, um Engenheiro com essa formação, ... e por aí fora. Nestas Empresas, os Gestores são um apoio às direcções, como o são os licenciados em Direito, mas nunca deveriam poder assumir a posição de Presidente do Conselho de Administração.
Mas a lógica dos Partidos Políticos em Portugal, não é esta, porque estes lugares são a paga para alguns favores e porque quem manda, ... não quer quem levante "porquês?".
Estive a pensar longamente se te ignorava, ou se te escrevia sobre o que se está a passar e que te envolve directamente. Eu sei que nada disto estava nos teus planos quando te candidataste à Santidade, mas agora que te estalou a batata na mão, não me venhas dizer que sempre houve pedofilia, que os padres são homens e que são poucos os acusados, porque a questão não é essa. Eu quero é saber porque é que os encobriste e te sobrepuseste ao poder civil. Tu geres um Estado dentro dos Estados, tens estatuto de chefe moral com benefícios económicos e políticos, e usaste-os com prejuízo das comunidades que era suposto protegeres. Hoje são abusos sexuais, mas amanhã virão outras histórias dos confessionários aos corredores do poder, onde o jogo de influência vos deu os primeiros lugares, e onde se eliminou quem não se alinhava por essa tua bitola. Será que, com este passado, ainda te vão deixar passar a mensagem de “guardião de valores”, principalmente quando as vítimas foram os mais desprotegidos. E atenção, que eu não chamo “negligência” ao que fizeste, porque entendeste que a vida dessas crianças valia menos que um beliscão na imagem da tua Igreja. Ouve o que te digo. Mete a reforma, inventa uma doença ou vai de férias, mas não voltes, que tu já não estás acima de qualquer suspeita. E vê se rezas, porque o Céu não te está garantido e fica ciente que quando eu morrer irei saber de ti, e que, para não perder tempo, começo por baixo! Cuida-te!
Do que me lembro do tempo de Liceu, não foram essas guerras entre alunos. O que me ficou e me pesa, foram os actos de desrespeito para com os bons professores e pela Instituição “Escola”, mesmo tendo sido poucos aqueles que nos deram a sentir que estavam ali para nos ajudar e ser mais comum vê-los como a personificação de uma “ordem” a que nos tínhamos de submeter, sem entender o porquê, o que "licenciava" que lhes expusessemos as fraquezas pelo gosto de nos medirmos.
- “Eh pá! Hoje entramos na sala com os casacos trocados. Os tipos altos vestem os casacos dos pequenos e vice-versa, a ver o que dá!”, e íamos para a sala apalhaçados à espera que o “Popi” (que havia sido professor do meu pai, e de quem ele guardava as melhores memórias), nos desse pretexto para argumentar uma qualquer razão. Só que o “Popi” não ligava e dava a aula como nada se passasse e, aos poucos, os casacos lá iam voltando aos donos, enquanto ele repetia, perante qualquer interrupção, a sua fórmula mágica: “senta aí, e pouca treta!”.
- “Eh pá! Hoje na aula de Canto Coral, quem for dar ao fole do órgão, tem de roubar a bengala do Regadas!”, e o pobre tinha que se medir com aquela turba de inquietos cujo primeiro objectivo era a confusão.
Era um jogo diário, onde as “faltas disciplinares” (três num ano davam para reprovar) obrigavam a controlar os riscos. Nunca na aula de Português, que o Rapa-Côdeas não era para brincadeiras.
–“Oh palerma! Que nota tiraste no exame?”, e eu a continuar pelo corredor, com o rabo entre as pernas, a fingir que aquilo não era para mim, quando uma mão sapuda me agarra. – “Quanto tiraste?”, e eu a engolir as palavras: - “Tirei 10!”. – “És um bacoco! !”. Aquilo assim no meio do corredor com todos a olhar, sem me deixar explicar que aquelas estrofes dos Lusíadas tinham os versos trocados.
É disto que me lembro, de ter participado em jogos de desestabilização dos professores mais frágeis como que me vingando daqueles que nos amedrontavam, sempre aceitando como natural todo aquele poder e a nossa reacção a ele.
Com as palavras Gestão e Danos e suas variantes, podemos percorrer o espectro do empenho ao banditismo, pelo que há que ter atenção aos factos (e não ao discurso), para identificar se o mal é do gestor ou dos acasos.
Gerir Danos - quem gere não tem responsabilidade nos imprevistos, e tenta achar soluções para problemas que acontecem durante a sua gerência. Gestão com Danos - o gestor tem responsabilidade nos acidentes que ocorrem durante a sua gerência e que se reflectem no desempenho da empresa. A causa está na sua inépcia ou leviandade, e deve ser entendida criminalmente, de modo a que os atrevidos se não candidatem a lugares com exigência superior á sua competência. Gestão Danosa - implica premeditação para beneficiar um grupo (partido político, outra empresa, um particular), com prejuízo evidente para a empresa ou seus beneficiários.
Claro que as fronteiras destes três grupos são difíceis de definir, mas, se pelo menos houvesse cuidado em identificar os que não se encontram nas margens, muitos dos “boys” não seriam convidados e muitos dos que aceitam cargos pelo “penacho” pensariam duas vezes.
Terra de grandes barrigas, Onde há tanta gente gorda, Às sopas chamam açorda E à açorda chamam-lhe migas; Às razões chamam cantigas, Milhaduras são gorjetas, Maleitas dizem malêtas, Em vez de encostas, chapadas, Em vez de açoites, nalgadas E as bolotas são boletas.
Terra mole é atasquêro, Ir embora é abalar, Deitar fora é aventar, Fita de couro é apêro; Vaso com planta é cravêro, Carpinteiro é abegão, A choupana é cabanão E às hortas chamam hortejos Os cestos são cabanejos E ao trigo chama-se pão.
No resto de Portugal Ninguém diz palavras tais; As terras baixas são vais Monte de feno é frascal Vestir bem, parece mal À aveia chamam cevada Ao bofetão orelhada Alcofa grande é gorpelha Égua lazã é vermelha Poldra Isabel é melada.
Quando um tipo está doente Logo dizem que está morto. A todo o vau chamam porto Chamam gajo a toda a gente Vestir safões é corrente Por acaso é por adrego, Ao saco chamam talego E, até nas classes mais ricas Ser janota é ser maricas Ser beirão é ser galego.
Os porcos medem-se às varas, O peixe vende-se aos quilos E a gente pasma de ouvi-los Usar maneiras tão raras; Chamam relvas às searas Às vezes, não sei porquê E tratam por vomecê Pessoas a quem venero; “não quero” dizem “na quero” “eu não sei” dizem “ê nã sê”!
Autor: J. De Vasconcelos e Sá
Assim já cantei um dia Pois no Alentejo nasci Ali amei e sofri E ao meu povo eu entendia Pastel de grão é azevia Massa frita é brinhol Piolho cata-se ao sol À lenha chamam molheta O zangado diz punheta Sapateiro usa serol
A frigideira é sartém Uma tigela plangana Mulher de graça é magana Falar mal é coisa vã Cama de molas divã E quem dança está balhando Chover pouco é muginando A gasosa é um pirulito Qualquer cão é um canito Chorar baixo é chomingar
Ao leite chamam-lhe lête Um bacio é um penico Um desmaio é um fanico Um canteiro é alegrete O soutien é um colete Do pão duro faz-se migas São saias quaisquer cantigas Grão cozido é gravançada Qualquer pessoa é coitada E as amantes são amigas
Emprestar é repassar Mentiroso é trapacêro Amolador é um gaitêro Ir à monda é escardar Chatear é amolar Do pobre diz-se infeliz A igreja é uma matriz Cafeteira é choclatêra Coisa torta é pernêra E é o povo que assim diz
Um barril é um porrão E a garagem é cochêra Chouriço preto é cacholêra Preguiçoso é lazêrão Homem do campo é ganhão Chama-se fosso a um vale Almofariz é um gral Sopas frias é gaspacho Viver bem é ter um tacho E assim fala Portugal
Do que li sobre testosterona e do que ao longo da vida me apercebi dos seus efeitos sobre os seres vivos que a produzem, ficou-me o mesmo respeito que tenho pelos grandes fenómenos naturais como se de trovoadas ou de tsunamis se tratasse, pois frequentemente determinam prejuízos para o próprio e para quem lhe está perto, pelo que é melhor dar-lhe escape controlado, que contê-la com inibições férreas.
A castidade iniciada na juventude (num indivíduo sexualmente competente), é uma violência física e psíquica que, com grande probabilidade, ocasiona perturbações comportamentais. De modo diferente a entendo, se é uma opção tomada em vida adulta, depois de uma vivência sexual “normal”. No mundo ocidental, o último país a pôr fim à castração foi a Itália em 1870, mas só em 1902 o Papa Leão XIII proibiu o uso de castrati nos coros das igrejas, marcando assim o fim desta exploração sexual das crianças no deleite e segurança dos poderosos.
Vejo a pseudoCastidade/Celibato do Clero Católico como uma “mutilação psíquica”, que visa objectivos semelhantes, mas que deixa a oportunidade para que, por baixo desse verniz, se possa ter vida sexual. Não entendo porque havia a natural reprodução dos seres vivos diminuir-lhes a virtude, nem por que razão a defesa de princípios e o empenho na defesa do bem comum possa ser incompatível com uma sexualidade normal. O Clero de qualquer religião deve ter um crescimento sexual normal, para que se evite este flagelo de indivíduos anti-sociais travestidos de santos homens, que o Vaticano protege numa política de "gestão de danos".
No “Prós e Contras” de 15 de Março, sob o título “Novos Horizontes”, Eduardo Lourenço e José Gil, discutem com Economistas sobre o tema“Portugal no século XXI. Medo do futuro ou vontade de vencer? O que vale o Rigor e a Ética? Política e Economia: uma relação difícil”. Basicamente foram da opinião que actualmente o Poder Político está submetido ao Poder Económico e que os interesses da população estão subjugados aos imperativos do sistema financeiro. Dramático é “não se vislumbrar alternativa”, o que justifica que os Estados tenham mobilizado meios para que, nesta crise, os prevaricadores se mantivessem por cima, mantendo a população ao serviço de Economia e não a Economia ao serviço da população.
O justo e o necessário continuam assim objectivos secundários.
Fundamental, principalmente para quem anda por áreas centradas na vida em geral e na humana em particular. É fácil de ler e dá-nos a ideia certa da nossa dimensão no mundo. Richard Dawkins é não só um cientista de grande qualidade, como também é um master na comunicação oral e escrita.
- “Isabel! A Sra. não sabe que o seu companheiro está infectado pelo vírus da SIDA?” - “Sei, Sra. Dra.! Disse-me ontem a médica. Mas, felizmente, o bébé parece que não tem nada, e eu também não!” Era então uma bonita jovem de 19 anos. Na consulta seguinte do companheiro, questionei-o: - “Então você tem a mulher grávida e não lhe falou da sua doença?” - “Eu não disse porque esse filho não é meu! Quando comecei a namorar com ela, ela já estava grávida!”, respondeu, justificando o injustificável, e falseando a verdade pois os anos iriam chapar na cara do garoto a sua marca.
Ela tinha testes negativos nessa altura e meses depois, e ele com doença multi-resistente foi encaminhado para tratamento num centro mais diferenciado. Perdi-lhes o rasto.
Voltava agora, sete anos depois, por ter sido despistada positividade numa consulta de dadores de sangue. Tinha aspecto cuidado e, embora mais magra, aparentava a saúde própria da idade. - “Isabel! Então você está seropositiva? Como é que arranjou isso? Vocês deviam ter cuidado. A Sra. teve muita sorte de início, como é que se foi deixar infectar pelo seu marido?, pergunto. - “Meu ex-marido, Sra. Dra.! Ele tratava-me muito mal! Batia-me e não queria saber de mim! Olhe que até estive internada em Psiquiatria! Agora tenho outro, que é meu amigo e quer muito ter um filho meu! Será que posso engravidar? Não sou bem eu que quero, que já tenho dois. Ele é que quer, que não tem nenhum!” - “Oh Isabel! Há quanto tempo é que anda com este?”, pergunto a ganhar tempo para compreender. - “Há 1 mês, Sra. Dra! ... Mas ele quer muito!”
Também tenho a sensação que Portugal está a andar para trás, de que há mais coisas a piorar que a melhorar, no meio desta conversa do “vamos fazer” ou do “fizemos”, sem ter a obrigação de mostrar qualidade. É assim que andam as modas. Na preocupação de “não ficar para trás”, fazem-se “inovações” à custa dos aspectos essenciais das funções, e baixa a qualidade. E vai ser a baixa de qualidade, o medo que se voltou a instalar, o autoritarismo, o desrespeito pela legalidade e a baixa motivação para a actualização, que vão servir de “mote” para a privatização da Saúde.
Se for este o caminho, não irá também haver capacidade de fiscalização séria dos privados, e estará aberto o espaço para outras ineficiências e preços escandalosos. Mas nessa altura, talvez seja tarde para salvar o SNS.
Era uma vez uma Ordem Religiosa que para além do culto do Divino, tinha por regra falar sempre verdade e, a tal ponto levavam o assunto, que a mínima mentira era suficiente motivo para exclusão da irmandade. Um dia, um jovem frade, passeava pelas imediações do convento, quando foi surpreendido por um homem a correr esbaforido que lhe disse: -“Vou-me esconder ali atrás daquele silvado. Vem aí gente atrás de mim! Se dizes onde eu estou, dou-te um tiro com esta pistola que te estouro os miolos!”, e disto isto, foi-se esconder do lado de lá do caminho quando, de imediato, surgiu o grupo que o perseguia, e lhe pergunta: -“Viste passar por aqui alguém a correr? É que ele matou um homem ali em cima!” O frade sentiu a morte a rondar e, talvez por ainda não estar preparado para enfrentar o criador, respondeu calmamente, mantendo os braços cruzados sobre o peito e as mãos enfiadas nas mangas: -“Por aqui não passou!” Com esta informação, os perseguidores voltaram para trás e o fugitivo continuou a sua fuga. Mas … nestas coisas das histórias, há sempre alguém que assiste, para depois pôr em causa o prevaricador, pelo que um frade mais velho de imediato surge em cena para o questionar: -“Tu mentiste!” Ao que o frade respondeu, seráfico: -“Não menti! É que eu quando lhes disse - por aqui não passou, estava com o indicador a apontar para dentro da manga do meu hábito!”.
São artes destas que constituem a retórica actual dos nossos “políticos” para esconder as práticas, pois sabem que a maior parte dos ouvintes ou é crente ou pouco dado a discernir para além do óbvio.
Este é o famoso exemplo, preparado pelo Prof. Daniel J. Simons da Universidade de Illinois. Durante 25 segundos, filmou jovens que lançam um par de bolas de basquetebol de uns para os outros. Nós, os objectos da experiência, observamos o filme, e a nossa tarefa, para nos testar o poder de observação, é contar o número de passes entre a equipe vestida de branco.
Flavius Stilicho (359 - 408), filho de pai Vândalo e de mãe Romana foi um semi-Bárbaro, que pela qualidade dos seus feitos atingiu os mais altos cargos do Império Romano. A sua eficiência militar em múltiplas campanhas, valeram-lhe sucessivas promoções - foi General (magister militum), Patrício e Cônsul do Império Romano. Salvou por duas vezes Roma da invasão dos Bárbaros.
Foi mandado executar por ordem do fraco Imperador Honório, de quem fora tutor, padrinho e sogro, por intrigas palacianas dos seus opositores. A sua morte fragilizou Roma e abriu portas aos Bárbaros que em vagas sucessivas iriam determinar a Queda do Império em 476.
É uma história terrível a deste homem, dedicado e capaz, que se “deixa morrer” na ideia de que a defesa da sua causa seria, também ela, uma desestabilização que fragilizaria o Império.
Fazer coisas certas pelas razões certas. Fazer coisas certas por razões erradas. Fazer coisas erradas pelas melhores razões. Abandonar as coisas certas por falta de racionalizações que as suportem.É neste espaço que nos movemos. Cumprimos objectivos adequados ao tempo em que vivemos, e corremos riscos se os rituais se entenderem independentes da evolução cultural do povo a que se destinam.
Hoje lembrou-me definir alguns aspectos que antevejo para a próxima Religião, que será apelativa por ser útil.
Rituais sociais centralizados na necessidade.
Baptismo: a "apresentação" social, para dar conhecimento e solicitar participação no desenvolvimento e integração.
Comunhão: celebrar-se-á em grupo, quando a criança (após provas do conhecimento das normas sociais) pode ganhar estatuto de membro responsável.
Casamento: apresentação pública de duas pessoas que decidem viver em comum e que, passam a ser entendidas como uma, pois o que se fizer de bom e de mau sobre um deles, se reflectirá necessariamente sobre o outro.
Funeral: despedida e elogio de quem nos deixa (para exemplo dos demais), e manifestação de solidariedade com o seu grupo familiar.
Novos Icons religiosos (que integrarão os antigos) presentes e não intervenientes. Festas sociais no mesmo espaço dos rituais.
Não há aqui nada "de novo", salvo o diferente enfoque no Além e no Aquém.
Razões para o Bem fundamentadas mais na História e na Ciência que na crença.
Templos como espaço de estudo, discussão e divulgação dessa cultura, tipificada em histórias paradigmáticas e naquilo que a ciência for tornando óbvio.
"Padres” (de qualquer sexo, sem necessidade de celibato) conhecedores de Biologia e História suficiente para ajudarem a integrar o dia-a-dia no geral do conflito social, sem o sobrenatural a condicionar as decisões.
Como sempre aconteceu com qualquer Religião, primeiro seriam convertidos os mais esclarecidos, depois os mais poderosos e por fim “o público em geral” .
Uma futura Bíblia escrita nos próximos cinquenta anos. Uma Obra Social reorientada das outras Religiões, à semelhança do que aconteceu com a dos deuses antigos.
Como não estou disposto a morrer para acelerar os factos, dou a dica para quem o esteja.
Na calma deste sábado leio na “Visão” Nº887, a “Opinião” o Prof. da Fac. de Ciências de Lisboa – Dr. Carlos da Câmara, sobre as recentes cheias. Nos últimos parágrafos estranha que o presidente do Instituto de Meteorologia, gestor de formação, tenha sido a voz daquela Instituição.
De repente fez-se-me um “click”. É isso! São os nossos gestores a liderar, a falar por quem sabe, só porque há números a defender. Depois, só é necessário ser atrevido e decorar meia dúzia de chavões para que a populaça acredite que se está dentro do assunto e se sabe o que se quer.
É o que “está a dar”. Uma licenciatura em “Gestão”, tirada em curso nocturno ou como trabalhador estudante, uma filiação e amizade partidária, e o acesso às rédeas das Instituições é quase uma garantia. Tão apetecível é a função que até quem se diferenciou em Direito se auto-nomeia “Gestor” e paga pareceres que a sua deficiente formação impede.
Tendem a ignorar outros valores que não sejam os seus números e “o que fizer falta” para se manterem nos lugares, pois pouco entendem do que se joga nesses números que lhes servem no papel.
-"Larguem-me! Deixem-me entrar, que eu sou o Papa João Paulo II!" E ali à porta de imediato se estabeleceu um sururu, de gentes que se afastam e outras que atrás o tentam agarrar, enquanto a acompanhante, de telemóvel em punho, dava um directo daquela entrada no Serviço de Urgência. -"Eu sou o Papa João Paulo II!", insiste, esbaforido, forçando a entrada e, num repente, livra-se das roupas para dar o espectáculo de um belo jovem nú, exposto naquele átrio público.
-“Bem vindo! Eu sou o Papa Bento XVI!”, diz-lhe quem o contém antes de o sedar.
Era uma crise psicótica num doente bipolar. A 2ª da vida desse rapaz estudioso e inteligente, filho de uma família de gente culta e influente, onde a Doença Bipolar e as histórias de suicídio coexistem com actividades científicas de grande exigência e qualidade.
A Doença Bipolar (anteriormente chamada de Psicose Maníaco-Depressiva), nas suas fases "maníacas" pode passar despercebida e arrastar os doentes e os que lhe estão próximos para situações desastrosas, e é por isso que eu temo o subdiagnóstico de Hipomania em políticos ou em alguém com cargos de direcção (pública ou privada).
Hoje o "Público" noticia sobre a "Via Verde do AVC no Alto Minho", como pode leraqui.
São "disfunções" a vir à tona.
Meses de planeamento, compromissos assumidos e uma desactivação inexplicada.
É muito MAU, porque não só não se resolveu nada como se criou mal-estar dentro dos Serviço de Medicina do Hospital, que (em meu entender) prejudicam a Instituição.
Há responsabilidades, porque neste processo foram marginalizadas as opiniões divergentes e desrespeitadas normas legalmente definidas.
Quanto ao facto da Administração garantir que "os doentes em questão, que rondam os quatro a oito por mês, não estarem a ser prejudicados, seguindo as vias alternativas já existentes sem qualquer prejuízo no seu diagnóstico e tratamento", não parece ter qualquer verdade, pois a solução de Porto, Braga ou Vila Nova de Gaia, coloca não só alguns doentes fora da janela terapêutica das 3 horas, como os que ainda podem ser tratados com fibrinólise só o farão mais tarde, e seguramente com maiores sequelas neurológicas. Nesse caso: Porque se justificaria uma Via Verde em Viana do Castelo?. Manter-se-ia tudo como estava. O facto de se dizer que são 4 a 8 e com isso pretender "dimensionar" o problema - não comento.
- Então, conte lá como foi o transporte dessa doente. Parece que houve percalços. - Foi tudo bem até meio da viagem, quando a enfermeira, que ia junto da doente, pediu para pararmos. Fui lá atrás e dei com ela nauseada, pálida e quase a desfalecer. Tinha as tensões muito baixas. Recostei-a um pouco e depois de se dizer melhor, dei-lhe o lugar da frente e fui para o lugar dela ao pé da doente. Mais uns Kms, e a motorista volta a parar porque ela estava quase a vomitar. Saí, deitei-a no asfalto da auto-estrada, levantei-lhe as pernas e dei-lhe uma Metoclopramida e.v.. Ainda ficamos ali uns 10 minutos enquanto a doente lá dentro perguntava repetidamente se já tínhamos chegado. Felizmente que ela estava bem. Depois a enfermeira lá melhorou e continuámos. Se calhar foi o hálito do socorrista que a pôs assim!
Quando o conheci era já um homem limitado pela incapacidade visual que o atirava mais para os títulos que para os conteúdos, mas mesmo assim foi deputado da Nação, daqueles que entra mudo e sai calado, em três anos de mandato. Falava-se dele mais pelas histórias de quando esbracejara para ocupar o lugar a que se entendia merecedor, do que pela sua actividade científica. A história que me lembrou agora, tem a ver com a sua parca actividade clínica nos idos anos 70, quando os Electrocardiogramas eram o maná dos cardiologistas e Trás-os-Montes a coutada de alguns deles. Em parceria com outro, tinha montado o circuito. Uma vez por semana, passava a recolher os traçados que alguém havia feito, e distribuir os já relatados pelas diferentes "estações", de Penafiel a Bragança. Nessa altura um ECG era coisa de cardiologista, e a sua leitura no sossego do lar, um complemento ao vencimento.
O que me fazia espécie eram os seus relatórios quando tudo estava bem. É que ele não escrevia: Electrocardiograma Normal. Ele escrevia: Electrocardiograma ainda normal, deixando os incautos na expectativa do “até quando”.